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quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Por Trás do Criacionismo da Terra Jovem 12: Peixe X Anfíbio



Observe a imagem ao lado. Quem desenhou isso foi um criacionista, que imagina que a transição de peixe para anfíbio, do qual falaremos agora, foi da forma ao lado... Como podemos ver, transição entre peixes e anfíbios é um tema muito polêmico e "explorado" pelo criacionismo. Assim como acontece com os fósseis do Archaeopteryx, do Australopithecus e outros seres, existem fósseis transicionais documentados nessa história que os criacionistas tentam "provar" se tratarem de transicional coisa nenhuma, através de métodos que, digamos, não podem ser chamados de corretos.

Por isso, este artigo vai mostrar os contrargumentos do criacionismo contra a evolução dos anfíbios, no que eles se fundamentam e o que eles são na realidade. Se você, caro leitor, já leu os outros artigos da série "Mentiras por Trás do Criacionismo", não irá ficar surpreso com o que este artigo irá mostrar. Do contrário, você sem dúvida ficará surpreso com o que o artigo vai revelar sobre essa história...

PEIXE FORA D'ÁGUA

Assim como nos outros artigos, começaremos pelos argumentos mais simples e aos poucos partiremos para os complexos.

A princípio, sabe-se que a evolução do peixe para o anfíbio ocorreu em um peixe pulmonado que, devido a fatores genéticos, ambientais (e espirituais, conforme a Bíblia), sofreu uma transformação gradual onde suas nadadeiras deram origem a membros dianteiros e traseiros, além de uma somatória de várias outras mudanças, até originar o grupo dos anfíbios. Por parecer algo meio que difícil de ter acontecido, esse estágio evolutivo é sem dúvida um dos mais mal compreendidos pelos leigos e criacionistas.

A respeito dessa tese, no chat "yahoo!respostas", uma pessoa argumentou da seguinte maneira:

"O peixe pensa??? Que peixe louco foi esse que resolveu sair da agua? Pensou "Vou sair da agua porque lá fora tem Terra,e nesta terra deve ter muito mais alimento que aqui na agua" Tão me entendendoooo????? Há algo de Inteligência aí,seja do peixe,seja da Força da Seleção Natural.... Um peixe que não pensa não ia se arriscar em sair da água, nem que fosse aos poucos, para saber o que tem lá fora."

Bom, sabemos que realmente peixes não pensam. Então o que pode ter ocasionado essa mudança para o ambiente terrestre? Primeiro: A característica que permitiu o peixe sair da água, somado com fatores comportamentais e ambientais, fez com que as pressões evolutivas favorecessem os animais que ficassem fora dagua e por um acaso, nesse meio termo, achassem comida. Isso é seleção natural e é comprovada. Mas claro, estamos falando de uma seleção natural de milhões de anos. Segundo: Aceita-se hoje, devido as evidências que os fósseis apontam, que o ambiente onde vivam os peixes pulmonados que sofreriam as transformações era composto de épocas de cheia e de seca. Nas épocas de seca, alguns peixes que sofreram mutãções "aleatórias" se desenvolveram melhor que aqueles que se desenvolviam melhor em época de cheia, ou seja, os peixes não saíram se arrastando para a terra seca. Terceiro e último, Deus é o Criador e isso eu não contesto, por isso também que acredito que quem elaborou as mutações que favoreceriam os peixes em terra seca, por exemplo, foi o próprio Deus, pois a Bíblia deixa claro que Ele participou ativamente de cada momento de sua Criação; logo não é absurdo imaginar que Deus, pela sua Palavra, foi conduzindo esse processo para criar um ser vivo novo: o anfíbio.

O DILEMA DO CELACANTO

Os cientistas estão certos de que os anfíbios tiveram origem no grupo dos peixes sarcopterígios, ou peixes pulmonados, no Devoniano Médio, há uns 370 milhões de anos aproximadamente. E as contraevidências a respeito dos fósseis transicionais começam justamente com eles. Comumente, os criacionistas citam como fraude do tema o peixe Celacanto. Confira o argumento abaixo, retirado de um texto criacionista: 

"O celacanto é um peixe que aparece em estratos de 300 milhões de anos atrás. Conhecem-se fósseis desse peixe até em estratos do começo da era cenozóica, isto é, até 60 milhões de anos atrás. Pensava-se que o celacanto tivesse existido durante esse intervalo de tempo de 240 milhões de anos. Acontece que de 1938 para cá, vários espécimes, vivos e saudáveis, foram pescados no Oceano Índico. Quer dizer: esse peixe atravessou 300 milhões de anos até nossos dias, enquanto que, de acordo com os evolucionístas, ao longo dessa duração houve evoluções de peixes em anfíbios, anfíbios em répteis, e répteis em mamíferos."

Pois bem, vamos explicar o que aconteceu no caso do Celacanto:  A verdade é que o peixe fóssil e o encontrado em 1938 não são dois peixes iguais! Eles não são da mesma espécie, nem do mesmo gênero, e nem da mesma família...
O celacanto pescado em 1938 é o Latimeria chalumnae, da família Latimeriidae. Ele não possui registro fóssil, portanto não pode ser considerado um “fóssil vivo”. Os celacantos fossilizados são de outra família, em sua maioria Coelacanthidae, foram extintos há 100 milhões de anos, e são significantemente diferentes do que foi encontrado vivo. São diferentes no tamanho, cabeças, espinhas dorsais, barbatanas, órgãos internos, entre outros. As diferenças são estudadas a fundo por Peter Forey em seu livro “A História dos Celacantos”. Uma figura extraída de seu livro mostra isso:





O celacanto de cima é o atual, Latimeria chalumnae, com 1,8 metros de comprimento. O segundo é o celacanto do perído Cretáceo, Macropoma lewesiensis, com 59 centímetros de comprimento. Notou como são peixes diferentes?

E mesmo que eles fossem iguais, isso não seria nenhum problema para a evolução. A Teoria da Evolução não diz que os organismos são obrigados a evoluir. Em um ambiente que não muda, a seleção natural tende a manter as coisas morfologicamente iguais.



PEIXES QUE OS CRIACIONISTAS ESQUECERAM

As informações sobre o celacanto com relação a esse tema é que, realmente, a princípio se pensava que ele teria feito parte da transição peixe-anfíbio, mas os fósseis mais recentes desse peixe e os exemplares em vida mostrou-se que ele seria um parente dos verdadeiros ancestrais dos tetrápodes (animais de quatro pés) Mas e esses verdadeiros peixes ancestrais dos tetrápodes? Existem fósseis? Existem. Nesse caso começaremos citando o Eusthenopteron. Esse peixe ainda não era um misto de peixe com anfíbio, mas a dentição, o formato da cabeça, os ossos das suas nadadeiras e os pulmões eram algumas similaridades que essa criatura tinha com os tetrápodes. E o que os criacionistas dizem dele?

No livro "A vida - Qual a sua origem?", publicado pelas Testemunhas de Jeová, na sessão que trata do tema peixe para anfíbios, mostra a ilustração de um peixe caminhando parcialmente em terra, chamado Eusthenopteron, alegando queela foi retirada de um livro e que é fictícia, como se o animal retratado não existisse. A ilustração é esta aqui:



Mas o problema é que o Eusthenopteron existiu mesmo, e igualzinho a esta ilustração, como os fósseis abaixo mostram:




Abaixo veja duas reconstituições dele em vida, baseadas em seus fósseis:


Uma "saída" para o caso abaixo é afirmar que ele era apenas um peixe, e não uma mistura de peixe e anfíbio... Mas o problema é que ele tinha característica de anfíbio...

Mas enfim, vamos para o próximo peixe pré-histórico. O segundo, o Panderychthis, é pouco questionado pelos criacionistas, e na verdade, se os criacionistas querem derrubar a teoria da evolução, este é um que deveria ser questionado...
Observe algumas imagens dele, e entenda o porquê:





Sim, esse animal é um peixe, mas que possui características de anfíbio que são notáveis. Uma delas era seu espiráculo, um tubo vertical usado para respitar água pelo topo da cabeça, enquanto o corpo estivesse submerso em lama. Este espiráculo é um órgão transicional que levou ao desenvolvimento do estribo, um dos três ossos do ouvido médio humano. Além disso, estudos recentes utilizando tumografia computadorizada mostraram que os ossos radiais de sua barbatana mais se assemelhavam a dedos do que barbatanas em si.

E que argumentação existe contra o Panderichthys? Nenhuma, quer dizer, ele é simplesmente ignorado ou tratado como um peixe comum...
Aí você pode estar se perguntando: "ora, então os argumentos estão escassos".
Bom, agora é que a "artilharia pesada" começa. E a desonestidade também. E o desrespeito (por parte dos criacionistas) também...

CAÇOANDO DE UM TIKTAALIK

A descoberta dos fósseis de um certo peixe pulmonado, chamado Tiktaalik, chamou muito a atenção dos evolucionistas - e dos criacionistas. Essa criatura era realmente aquilo o que se esperava entre o Panderychthis e o Ventastega (uma outra espécie originalmente nomeada como anfíbio), pois ele era uma mistura impressionante de peixe pulmonado com tetrápode primitivo. Ele tinha artelhos, ombros, cotovelos, pulso, pescoço, cabeça plana similar a dos anfíbios, dentre outros aspectos.

Foi a partir desse fóssil que a desonestidade do Criacionismo da Terra Jovem começou a entrar em ação, de novo (para a vergonha de quem é evangélico, como eu, afinal 99 por cento dos criacionistas dessa categoria são evangélicos), pois antes deste fóssil os contrargumentos contra tal evolução não passavam de falta de informação e omissão dos fatos, como já vimos.

O blog "Sete Antigos Heptá", um blog ocultista crítico da teoria da evolução - e acredite, do cristianismo - apresentou um artigo fraudulento (você não leu errado, é "fraudulento" mesmo) que aos olhos de um leigo parece revelador, mas que na realidade é um dos artigos mais desonestos e desrespeitosos que existem do tema Criação X Evolução. O referido texto se encontra neste link: http://seteantigoshepta.blogspot.com/2009/09/tiktaalik-roseae-mais-uma-fraude-dos.html

Neste artigo (onde ele chama os cientistas que estudaram o achado de mentirosos, enganadores, "caras de pau", etc...) ele faz comparações de fotos e argumenta de uma forma sarcástica e desrespeitosa. Abaixo vamos ver os argumentos usados e simplesmente desbancar cada um deles...

A princípio ele mostra as fotos dos fósseis do Tiktaalik e diz que seus fósseis são muito "pobres" (de uma forma sarcástica) a reconstrução feita dele em vida é uma piada. Bom, vamos analisar uma foto de outro fóssil deste mesmo peixe, que foi achado, para ver o que ele diz ser uma piada:


Consegue reparar nas escamas e no formato da cabeça? Observe as nadadeiras também...
Claro, o fóssil sofreu uma certa erosão. Mas mesmo assim dá para se imaginar como esse bicho era em vida.

Agora compare a reconstrução dele em vida (abaixo) com a foto do fóssil acima:


Observe que não há nada de "piada" na reconstrução deste fóssil. Paleoarte não é algo que é feito de qualquer jeito. Essa réplica, no caso, é um protótipo da espécie, e não algo feito pela Nature; sendo que este protótipo, para ser concebido, precisou de muito estudo em cima do fóssil, ou seja, não foi algo do tipo "opa, vamos imaginar que ele tenha sido assim!", diferente do que aquele artigo quer fazer com que pareça, tendenciosamente.

Mas essa não é a pior parte.

O autor do texto, chamado "Bruno Guerreiro", após tentar mostrar que o fóssil é uma piada, mostrou uma lista com vários "peixes-gato" e afirmou que todos eles podem ser considerados "Tiktaaliks", tentando provar que aquele fóssil é de um peixe gato apenas. E ainda o faz de uma forma terrivelmente sarcástica, dizendo "olha aí mais um Tiktaalik" e fazendo "piadinhas" com isso.

Pra começar, nenhum dos peixes mostrados são Tiktaaliks. Todas as espécies apresentadas pertencem a espécies, gêneros e famílias diferentes das do Tiktaalik que, segundo estudos anatômicos do fóssil, foi um sarcopterígio, um peixe pulmonado da mesma família que o Panderychthis. Dentre as espécies apresentadas como "Tiktaaliks vivos", foi mostrado o Pirarara (Phractocephalus hemioliopterus), a Pirambóia (Lepidosiren paradoxa) , o Peixe-sapo (Pseudopimelodus raninus), etc...
Enfim, só nessa citação temos três peixes de três ordens diferentes: o primeiro é da ordem dos Siluriformes, o segundo é da ordem dos Batrachoidiformes, e dos Lepidosireniformes.

Logicamente deles são Tiktaalik roseae, que pertenceu á ordem dos Panderictídeos (a mesma do Panderichthys); além disso o Tiktaalik tinha características próprias de Sarcopterígio, como as nadadeiras lobadas (observe-as na foto do fóssil e compare com as do Panderychthis), e ainda tem mais: o tiktaalik tinha algumas características exclusivas do gênero, como a presença de um pescoço móvel, que o permitia rotacionar a cabeça sem com isso precisar fazê-lo com o corpo. Nenhum peixe gato e nenhum peixe pulmonado moderno apresenta essas características.

portanto, o artigo é simplesmente uma fraude criacionista. Das piores, eu diria.

Porém, não existe somente esta argumentação contra o Tiktaalik. Em um artigo do site Darwinismo, foi dito o seguinte:

"Três biólogos europeus estudaram o fóssil (alegadamente) transicional e chegaram à conclusão que, se este fóssil é um elo na evolução de peixe para animal terreste, as suas características estão fora de sequência e todas misturadas."

No site creation.com, é mostrado o estudo desses europeus parcialmente e é dissertado em cima, mostrando as falhas na interpretação do Tiktaalik. Na realidade, o nível da argumentação apresentada é o mesmo dos argumentos contra o Archaeopteryx... Acontece que realmente alguns fatos a respeito do Tiktaalik enquanto transicional ainda estavam ausentes, como a questão das nadadeiras, por exemplo. Essas questões, surpreendentemente, foram respondidas com o fóssil que veremos a seguir...

DELIRANDO COM O VENTASTEGA

Depois do Tiktaalik, foi anunciado a "descoberta" de outra espécie de peixópode (tradução de Fishapod, como esses peixes são conhecidos popularmente em inglês) que estaria um estágio depois do Tiktaalik, chamado Ventastega curonica. A conservação dos ombros, do crânio e da pélvis do novo achado explicava muitas coisas "pendentes" np Tiktaalik. E, claro, o alarde sobre ele, no mundo do criacionismo, também foi similar ao que aconteceu com o Tiktaalik, porém dessa vez encontramos as argumentações contra este fóssil em outro site: A lógica do Sabino.
Este site possui exelentes estudos bíblicos, de fato, porém em relação aos estudos que envolvem criacionismo e evolucionismo, o site é tão sarcástico e falacioso quanto aquele artigo sobre o Tiktaalik que vimos. E por que com o Ventastega seria diferente?

Analisemos as conclusões que o autor Marcos Sabino (um Criacionista da Terra Jovem formado em jornalismo) tirou sobre o Ventastega, uma a uma:

 - O autor disse que o texto alegava que o Ventastega tinha sido um “beco sem saída evolutivo”.

Esse termo realmente foi utilizado pelo autor da descoberta, porém ele quer dizer que o Ventastega já era mais preparado para a terra anatomicamente do que para a água. Não é algo que contraria estudo nenhum...

 - O autor afirmou que o Ventastega foi colocado antes do Tiktaalik, no entanto, este último é uma forma mais primitiva;

Não. O Ventastega não foi colocado antes do Tiktaalik, mas sim depois, exatamente como a data dos fósseis aponta (380 milhões de anos para o Tiktaalik, 365 milhões de anos para o Ventastega). Basta olhar a esquematização feita dos fósseis para ver quem vem primeiro e quem vem depois:



O que é dito no texto que conta a descoberta recente sobre o Ventastega, porém, é que o Ventastega não é um anfíbio completo, mas sim uma forma mais primitiva. Literalmente, um peixe-anfíbio. Como Ahlberg, o autor da descoberta, mesmo disse: "O Ventastega preenche a lacuna entre o Tiktaalik e os primeiros mamíferos terrestres.".

Á propósito, é importante deixar claro a questão das lacunas também. A evolução é um fato comprovado diante das centenas de transicionais já encontrados, que indicam que realmente houve esse fenômeno no passado que deu origem ás espécies de hoje (fenômeno este pode ser comprovado que foi conduzido por um agente externo inteligente, que para mim foi Deus). O que ainda encontra-se em estudo é a respeito dos detalhes de como esse processo aconteceu nos seres vivos. Quando diz-se que o Ventastega preencheu uma lacuna, é que ele por si só esclareceu com detalhes quais transformações o gênero Tiktaalik pode ter sofrido com o tempo para que seus descendentes fossem classificados no grupo dos anfíbios. Ou seja, o Ventastega não é O elo perdido, mas sim apenas mais um "pra entrar na coleção".
 - O autor alegou que o fóssil do Ventastega resume-se ao crânio, ombro e parte da pelvis, logo a reconstrução do animal como transicional é tendenciosa.

Aí é que mora a desinformação. A espécie Ventastega curonica foi divulgada na mídia recentemente mas outros fósseis de Ventastega e de criaturas similares ao mesmo (que podem ser aliás do mesmo gênero) já haviam sido encontrados antes, em  1977 (uma única mandíbula, sendo o animal também chamado de Metaxygnathus) e em 1994 (veja aqui). No entanto os cientistas originalmente o classificaram como anfíbio. Veja abaixo uma ilustração que mostra os fósseis encontrados em 1994:

Ventastega skull













 Os fósseis encontrados recentemente na Letônia e os estudos mais recentes em torno do Ventastega curonica, no entanto, lançaram uma luz enorme sobre este gênero, comprovando que o animal foi um peixe e (graças aos estudos em torno dos ossos da pélvis e dos ombros) comprovou-se que o animal conseguia ter locomoção e como deu-se a transformação da bacia de peixe para anfíbio. Além disso, em fósseis anteriores já haviam sido encontrados as "nadadeiras". O Ventastega tinha vários dedos nas patas.

 - O autor alegou que restos fósseis do Ventastega foram descobertos em areia que, apesar de supostamente terem 365 milhões de anos, por alguma razão, não solidificaram em rocha;

Errado. Os fósseis do Ventastega não foram encontrados em areia "atual". Ela estava compactada em rocha mas devido a algum agente natural (possivelmente chuva) umedeceu, e como o descobridor do fóssil disse, poderia ser escavada com uma faca de manteiga. E a perfeita conservação dessa areia ao longo de todo esse tempo se deve ao local onde os fósseis foram achados: um lugar muito calmo, que foi desse jeito desde o final do Devoniano. Justamente por isso, o resto de seus fósseis foram muito bem conservados, sem estar achatado ou coisa parecida.

- No texto, o autor diz o seguinte: "Vejamos… este fóssil foi encontrado em rochas do período Devoniano (entre 416 e 359 milhões de anos atrás), logo a sua “idade” tinha de estar compreendida entre este período. Quando o evolucionista procura restos fósseis em X camada com idade compreendida entre Y e Z, todos os restos fósseis que lá estejam só podem ter entre Y e Z idade, caso contrário algo não está certo, não é? Por sua vez, quaisquer restos fósseis encontrados em estratos geológicos com 300 ou 400 milhões de anos só podem provar uma de duas coisas: evolução ou evolução… não há outra hipótese. Uma vez que a Evolução 'está mais que provada', só o podem fazer, não é?

A lógica proposta aqui, na verdade, não faz sentido. Ora, claro que um fóssil em determinada camada com determinada idade radiométrica terá aquela idade, afinal não tem como um fóssil mais recente estar envolto em camada mais velha. Mas veja bem: estava se prevendo que seriam encontrados em estratos geológicos com 300 ou 400 milhões de anos formas transicionais entre peixes e anfíbios. Até aí tudo bem. Mas e se ao invés de se achar essa criatura (Ventastega) fosse encontrado um dinossauro, por exemplo, que não tem nada a ver com a evolução peixe-tetrápode? Bom, se a evolução não aconteceu e a Terra tem apenas 6 mil anos de idade então seria altamente provável que algo assim acontecesse, ou seja, a chance de no substrato aparecer exatamente um animal com características mestiças entre peixe e anfíbio, nesse caso, seria de 1 em 1000000. Mas foi o que aconteceu? o Ventastega foi achado e o estudo com base na evolução simplesmente acertou em cheio. O que seria coincidência demais caso a evolução e o modelo geocronológico fossem farsas, como o autor do artigo criacionista afirma, não é mesmo?

IGNORANDO MAIS ALGUNS FÓSSEIS


Os primeiros anfíbios catalogados, muito conhecidos na paleontologia, foram o Acanthostega e o Ichtyostega. Estes seriam os antepassados diretos de toda a fauna de anfíbios que já esteve neste planeta. Eu mesmo achava eles muito interessantes quando criança, e continuo achando. E por quê? Pela semelhança desses gêneros com os peixes pulmonados, que aliás, é impressionante.

O mais antigo, Acanthostega, viveu na América do Norte e apresentava semelhanças anatômicas incríveis com os peixes pulmonados; suas patas inclusive eram ainda primitivas, com oito dígitos. Já o Ichthyostega, contemporâneo do Acanthostega, tinha um aspecto mais de anfíbio do que de peixe, mas ainda lembrava em muitas coisas os peixes pulmonados (obs: as patas dianteiras do Ichthyostega não foram encontradas mas pode-se ter uma noção de como seriam com base no Acanthostega).


Mas... existe algum argumento contra esses transicionais?

Não. É dito que eles eram apenas "anfíbios incomuns". Mas então por que justamente eles possuem essas características, e pior, apontam uma evolução notável se colocados perto com os fósseis do Tiktaalik e do Acanthostega? Em outras palavras, esses fósseis, que evidenciam a origem dos tetrápodes a partir de peixes pulmonados, não foram até hoje refutados pelos criacionistas. Apenas são ignorados.

                                                   O TETRÁPODE (?) DA POLÔNIA

Recentemente, porém, uma matéria publicada pela FAPESP fez com que os criacionistas proclamassem a crise do Darwinismo e declarassem com voz firme que o Tiktaalik e o Panderichthys não são transicionais de jeito nenhum.

O artigo diz o seguinte:


Agência FAPESP – Uma descoberta feita na Polônia acaba de virar de cabeça para baixo a história evolutiva dos vertebrados terrestres de quatro membros, ou tetrápodes.
Um grupo de cientistas concluiu que pegadas encontradas em uma montanha no sudeste do país têm cerca de 395 milhões de anos, ou seja, foram feitas 18 milhões de anos antes do que se estimava ter sido a origem dos tetrápodes. A descoberta foi publicada na edição desta quinta-feira (7/1) da revista Nature.
Per Ahlberg, da Universidade de Uppsala, na Suécia, e colegas da Universidade de Varsóvia descrevem no artigo rastros de tamanhos e características variadas, bem como um número de registros isolados de até 26 centímetros de largura, o que indica que os animais teriam cerca de 2,5 metros de comprimento.
Os rastros do Devoniano Médio têm marcas distintas de membros superiores e inferiores e não trazem evidência de marcas do corpo. Ou seja, o animal era quadrúpede e não rastejava.

Os cientistas estimam que os tetrápodes tenham evoluído dos peixes por meio de um estágio intermediário, conhecido como elpistostege, cujos representantes tinham cabeça e corpo de quadrúpede, mas com características de peixes, como nadadeiras no lugar das patas.
As marcas fossilizadas encontradas na Polônia têm pelo menos 10 milhões de anos a mais do que os mais antigos fósseis de elpistostege até hoje descobertos.
De acordo com os autores do novo estudo, a descoberta sugere que os exemplares de elpistostege encontrados não eram as formas de transição entre peixes e tetrápodes como se imaginava. Segundo eles, isso mostra o pouco que ainda se sabe sobre a história primordial dos vertebrados terrestres.
O artigo Tetrapod trackways from the early Middle Devonian period of Poland (Vol 4637 January 2010 doi:10.1038/nature08623), de Per Ahlberg e outros, pode ser lido por assinantes da Nature em www.nature.com.

Porém, esse artigo é na verdade muito tendencioso... Pegando os textos originais em sua fonte (que você acha aqui), a conclusão é outra: os cientistas não estão certos de que esses fósseis pertenceram a tetrápodes, justamente porque não foi encontrado esqueleto nenhum. E mesmo que se encontre o esqueleto de quem deixou o rastro, a história da evolução dos tetrápodes apenas será reformulada, ou seja, por enquanto o Tiktaalik e o Panderichthys continuam válidos. E ainda, ajustes na escala evolutiva são comuns e conforme novos fósseis são achados é normal que esta seja ajustada, afim de entendermos melhor como ela aconteceu, pois, os estudos iniciais no tema já deixam claro que o processo existe.

Há muito a ser estudado ainda a respeito destas pegadas, e tem um detalhe: Essas pegadas podem muito bem ter pertencido a um peixe pulmonado da família do Tiktaalik, ou mesmo ao próprio Tiktaalik!

Segundo os descobridores do Tiktaalik a respeito das pegadas na polônia: “A anatomia do esqueleto, e muito menos as relações evolutivas do animal que fez as trilhas é difícil de interpretar através das impressões.” Ele diz que um modelo de esqueleto Tiktaalik iria produzir uma impressão muito semelhante à do traçado descrito no artigo. Assim “não há nada na anatomia descrita Tiktaalik que sugere que não tinha um passo”.

Concluindo: provavelmente foi um Tiktaalik ou parente do mesmo que deixou estes rastros, e não um tetrápode como o Ichthyostega. E mais uma vez toda a argumentação criacionista sobre o tetrápode da polônia se mostra equivocada.

ANIMAIS MOSAICOS?

Estamos diante de alguns fatos agora:

- O Eusthenopteron apresenta traços, realmente, de anfíbio;
- O Panderichthys apresenta um misto de características de peixe com anfíbio;
- O Tiktaalik realmente apresenta um misto de características de peixe com anfíbio mais ainda que o Panderichthys;
- O Ventastega apresenta ainda mais essa mistura, mas parece mais com anfíbio do que com peixe
- O Acanthostega já é anfíbio mas tem característica de peixes,
- O Ichthyostega já é anfíbio mas tem característica de peixes;
- As pegadas na polônia foram feitas por um animal provavelmente semelhante ao Tiktaalik,

Depois de tudo isso, ainda falta mais algum contrargumento criacionista? Sim, existe uma "carta na manga" pra esse caso.

Os criacionistas, diante de tudo isso, interpretaram esses fósseis como sendo de "criaturas-mosaico", ou seja, que possuem características encontradas em vários tipos de animais, mas que em si mesmo não são transicionais, como é o caso do Ornitorrinco.

Essa seria uma boa escapatória. Mas há alguns fatos que desqualificam esses tetrápodes e peixes basais como simplesmente mosaicos...

O Ornitorrinco é classificado como "animal mosaico" por parecer uma mistura de mamífero (corpo) com ave (bico). O problema é que a aparência de mistura de duas espécies é externa, ou seja, não diz respeito a sua estrutura interna. Ou seja, todo o seu esqueleto possui apenas características de mamífero, e de ave teria apenas o "bico", mas nem assim pode ser considerado porque o bico dele é diferente do das aves. Basta comparar o crânio do Ornitorrinco com o de um pato para ver a diferença:

 
O mesmo ocorre com o dinossauro Psittacosaurus. A sua cabeça parece a de um papagaio, porém quando comparamos os seus fósseis com o crânio de um papagaio, vemos que são parecidos mas logicamente são de grupos diferentes no que diz respeito aos traços anatômicos:



E por que o Tiktaalik, por exemplo, é diferente? É que se compararmos os ossos dele com o do Acanthostega veremos que a semelhança vai além da aparência. Ela chega a adentrar na questão anatômica e filogenética. A mesma coisa acontece com o Eusthenopteron, o Panderichthys, o Ichtyostega e o Ventastega. Além disso, há também outro fator que desqualifica o Tiktaalik e o Acanthostega, por exemplo, como mosaicos: Acontece que o Acanthostega também possui características "únicas" do Tiktaalik, e o Tiktaalik, por sua vez, possui características "únicas" do Acanthostega. Por fim, as características desses fósseis é exatamente o que se esperava a respeito da evolução desses seres, ou seja, era exatamente isso que deveria ser encontrado no registro fóssil segundo estudos de anatomia comparada entre peixes e anfíbios.

E tem mais um detalhe: todos esses fósseis foram datados radiometricamente do período do qual acredita-se que os primeiros anfíbios tiveram origem, ou seja, o Devoniano. Seria muita coincidência todos eles serem dessa época, caso fossem apenas mosaicos, uma vez que estes aparecem somente nas camadas do Devoniano, não é mesmo?

Enfim, tudo indica que esses fósseis não são categorizados como o Ornitorrinco.

TEM MAIS?

Por incrível que pareça, ainda, existem outros fósseis de peixes metade anfíbio que os criacionistas jamais mencionaram ou contrargumentaram:

Gogonasus



O Gogonasus nunca foi criticado por nenhum criacionista. a cabeça desse peixe parece um misto da do Eusthenopteron com a do Panderichthys, ou seja, algo que realmente se esperava encontrar no registro fóssil. Ele data da mesma época do Panderichthys, o que indica que possivelmente ele pode ter um parentesco próximo como este, uma vez que a evolução ocorreu nas populações de espécies, por meio de "micro-evoluções", e não ocorreu de forma linear.




Hyneria

O Hyneria foi um peixe da mesma família que o Eusthenopteron, mas muito maior. No entanto, era uma espécie que foi contemporânea dos primeiros anfíbios, ou seja, um "fóssil vivo" para a época. Os seus fósseis são muito escassos, temos apenas alguns ossos, seus dentes e as suas barbatanas. Seus fósseis indicam que suas barbatanas eram tão potentes quando as do Eusthenopteron.

Tulerpeton e Hynerpeton

Essas duas criaturas, conhecidos por poucos fósseis, tinham ossos muito parecidos com os do Ichtyostega. Possivelmente, pertenceram á mesma família que ele e se pareciam com ele.

 CONCLUSÃO

Tudo o que foi mostrado aqui indica apenas uma coisa: a transição do peixe para o anfíbio está sim bem documentada e toda a argumentação criacionista contra isso é distorcida. Eu fico realmente admirado com estas espécies e como Deus foi conduzindo suas transformações; é algo realmente espetacular. Mas por outro lado fico muito desapontado em ver criacionistas evangélicos agirem desta forma. Que testemunho de cristão é esse?

Com essa ação dos criacionistas, a imagem da população evangélica fica cada vez mais manchada para aqueles que conhecem a Deus, ou seja, quanto mais o criacionismo age assim, mais difícil será de um ateu vir conhecer a Cristo, uma vez que o criacionismo usa mentiras para defender a Bíblia.

Como eu já disse em outro texto, a existência de transicionais no passado e da ligação evolutiva entre grupos distintos de animais não coloca o Gênesis no lixo, aliás muito pelo contrário: esses estudos e essas descobertas nos ajudam a compreender melhor como foi que Deus criou as espécies de animais, ou seja, como é que as coisas se formaram pela Sua Palavra. O cristão não deve se abalar com as evidências da evolução, mas sim entendê-las e tentar estabelecer qual paralelo tais evidências possuem com o que a Bíblia nos revela. É isso o que deve-se fazer, mas tem poucos atualmente, infelizmente, que assim o faz.


BIBLIOGRAFIA














quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

A Teoria da Evolução segundo a Bíblia

Atualmente, muitos pastores e teólogos procuram frizar muito que a teoria da evolução é totalmente contrária a Bíblia. Não obstante, muitos também afirmam que a Bíblia, em algumas de suas passagens, consegue se antecipar á alguns fatos descobertos pela ciência. Em outras palavras, a lei da gravidade, o ciclo hidrológico, a paleontologia, a arqueologia, a esfericidade da Terra, etc, todos esses assuntos são apoiados e antecipados na Bíblia - todos menos a Teoria da Evolução.

Por causa da negligência a Deus por parte do naturalista inglês Charles Darwin, a evolução tem sido a bandeira principal do ateísmo e também uma teoria totalmente contrária a Bíblia e a idéia de Deus. Alguns chegam a usar até o slogam "Deus versus Darwin", como se a Palavra de Deus e a Teoria da Evolução fossem verdadeiros opostos um do outro. Mas será que um é realmente o oposto do outro? Será que ambos não possuem algum ponto em comum? Poucas pessoas pararam para fazer esse paralelo. A idéia, então, consiste em pegar as principais leis da Teoria da Evolução e confrontá-las minuciosamente com o que a Bíblia diz, da mesma forma que já foi feito com algumas leis da Física. Dá a impressão de que encontraremos muitos erros... Mas na verdade, não.

Afirmar que a Bíblia está de acordo com a macroevolução das espécies, também, para muitos deve ser igual a dizer que dá para acender um fósforo dentro de uma piscina cheia de água. Pensar assim, porém, se deve á imagem que o criacionismo, especialmente o da Terra Jovem, tem pintado da evolução, como uma tese maligna, atéia, mentirosa, anticientífica e fruto de uma conspiração contra a tese bíblica. Mas a coisa não é bem assim; na realidade essa imagem degenerada que é passada da evolução é basicamente falsa. Isso acontece porque não se sabe diferenciar "Neodarwinismo" de "Evolução". O Neodarwinismo é uma tese que tenta explicar como e por quê a evolução acontece nas espécies (sendo assim, ela pode conter alguns erros também), mas que geralmente é defendida por ateus justamente por não levar em conta a questão espiritual; já a evolução, em si, é apenas o mecanismo evidenciado pelos fósseis, pelo DNA, pela anatomia comparada, etc que gera novas espécies, sendo que a respeito desse mecanismo sabemos que realmente acontece, não é fictício.

Por incrível que pareça, os fatos e leis que permeiam a evolução são evidenciados na Bíblia também, tal como a descrição da Terra redonda e a Gravidade. Veja algumas delas:

LEI DA ORIGEM COMUM UNIVERSAL

Muitos criacionistas afirmam que a teoria da evolução é "apenas uma teoria", que não foi comprovada, diferentemente de uma lei. Afirmar isso é um erro crasso, pois a teoria da evolução é uma teoria científica composta de várias leis, todas elas comprovadas (teoria científica é diferente de teoria popular). Uma das mais citadas é a Lei da Origem Comum Universal.

Essa lei postula que todos os organismos na Terra descendem de um ancestral comum ou de um pool de genes ancestral.Ela foi, a princípio, formulada por Charles Darwin e todos os biólogos são unânimes a respeito dela, á excessão, claro, dos criacionistas. Dentre as evidências científicas dessa lei temos a universalidade do código genético, a possibilidade de se traçar uma árvore filogenética com base nas similaridades do DNA, dentre outras. Uma das mais relevantes evidências é pela estatística. Em 2010, Douglas L. Theobald publica um estudo na Nature avaliando a probabilidade de que toda a vida descendia ou de vários organismos ou de um único, tendo em conta a possibilidade de transferência horizontal de genes e sem partir do pressuposto que semelhança nas sequências de aminoácidos implique relação de parentesco genético. O investigador estudou 23 proteínas diferentes de 12 espécies dos três domínios da vida, incluindo o Homo sapiens, a levedura, o bacilo da tuberculose e o Archaeoglobus fulgidus. Os seus resultados indicam que a probabilidade de uma origem comum universal é 102860 maior do que a hipótese de haver mais do que um ancestral comum.

Em seu livro A origem das espécies, Darwin chegou a alegar que quando pensava nos seres vivos não como criações especiais, mas como descendentes diretos de seres primordiais, estes lhe pareciam "mais nobres". Essa afirmação do naturalista inglês pode nos fazer pensar que essa lei é contrária ao que diz a Bíblia. Aliás, para muitos criacionistas essa lei é absurda. Mas o mais surpreendente é que a Bíblia já falava de Origem Comum Universal muito antes de Darwin publicar seus estudos...

Em Eclesiastes 3:20, Salomão diz o seguinte:

 Todos vão para um lugar; todos foram feitos do pó, e todos voltarão ao pó.

Essa afirmação atesta claramente que tanto o corpo físico do homem quanto o de todos os outros animais, ao término da vida, retornam para onde vieram, ou seja, o pó da terra. Não precisa forçar muito a mente para percebermos que nesse trecho já está explíscito a Origem Comum Universal: todos os seres vivos, incluindo o homem, tiveram uma mesma origem - o pó da terra. Essa lei, sendo assim, está em conformidade com o que diz na Bíblia, e para completar, os estudos mais recentes sobre o tema indicam que a argila foi um dos principais componentes do pool de genes ancestral que deu origem á toda nossa diversidade. Claro, a Bíblia deixa claro também que o autor dessa origem da vida e seu desenvolvimento foi Deus. Outras passagens relacionadas são Gênesis 2:7, Gênesis 2:19 e Gênesis 3:19.

A POSIÇÃO DO SER HUMANO

Não obstante, em Eclesiastes 3:18 - 21 o autor deixa claro algo que foi afirmado por Darwin e que chocou o clero daquela época: o homem é um animal. Muitos cristãos, se escandalizando com essa afirmação bíblica, dizem que esse trecho da Bíblia não foi inspirado por Deus, contrariando a idéia da inerrância bíblica. Mas basta analisar seu contexto com atenção para percebemos que essa passagem diz respeito á parte física do homem apenas, e não da parte espiritual, a parte que conforme Gênesis 2:7 Deus soprou nas narinas do primeiro homem.

A origem dos seres humanos de acordo com os estudos da evolução é outro ponto que possui muita coisa a ver com a Bíblia. A Palavra de Deus especifica que o homem foi criado a partir do barro, mas não explica como Deus fez "barro virar gente". para alguns judeus e teólogos atuais, a teoria da evolução é a melhor explicação científica de como isso aconteceu, visto que a Bíblia, em Gênesis 2, não diz quanto tempo Deus usou para criar o homem.

Assim como aponta a teoria da evolução, o homem, de acordo com a Bíblia, foi uma das mais recentes espécies a aparecer na Terra. E assim como apontam os primeiros capítulos de Gênesis, existiram outras raças humanas na terra no princípio, sendo que apenas a nossa espécie sobreviveu (a Bíblia afirma que a extinção das espécies anteriores foi por conta do Dilúvio). Tal relato é muito parecido com o que as pesquisas mais recentes apontam com relação ao convívio entre Neanderthais e Homo Sapiens. Mais detalhes sobre esse ponto você pode ler aqui e aqui.

O GRADUALISMO EVOLUTIVO

Outro ponto que podemos notar uma relação com o que ensina a teoria da evolução e a Bíblia é com relação ao gradualismo. Ao contrário do que muitos podem pensar, uma análise bem minuciosa - e um pouquinho mais literal - do texto do livro de Gênesis aponta mais para uma criação gradual do que para uma que aconteceu num "puf" (criação especial).

Pra começar, o texto de Gênesis 1 deixa claro que tudo foi criado gradualmente: primeiro a Terra, depois os vegetais, depois os tipos modernos de animais, e o homem. Se considerarmos os dias de gênesis como dias terrenos ainda pode-se notar essa gradualidade. Mas quando consideramos que os dias de Gênesis foram no tempo de Deus (o que é mais provável), o gradualismo fica ainda mais destacado. Claro, é de conhecimento que fora o gradualismo existem também outros "ritmos evolutivos" comprovados que podem ter atuado no passado, como por exemplo a tese do Equilíbrio Pontuado. A Bíblia, contudo, não nega o gradualismo e nenhum ritmo evolutivo, porém alega que foi Deus quem conduziu todo esse processo. E conduzir, nesse caso, não é exatamente apenas "dar o ponto de partida", mas sim conduzir passo-a-passo, selecionando os genes para que novos seres sejam criados.

Uma prova bíblica de que provavelmente foi dessa forma que a criação se desenvolveu está no Salmo 139, onde diz que Deus forma os ossos do ser humano no ventre de sua mãe. Ora, se hoje com a ciência moderna sabemos que os ossos e todo o organismo é formado por leitura do código genético, nada mais justo que admitir que Deus é quem "molda" nosso DNA, e isso é algo que não se pode provar cientificamente mas também não se pode contradizer cientificamente, pois já parte para uma questão mais espiritual do que científica. E juntando isso com o fato de que a Bíblia diz que Deus formou todos os seres vivos a partir do pó, como vimos anteriormente, temos nada mais nada menos que a evidência bíblica de transformação nas espécies ("desenhadas geneticamente" por Deus) e da lei do gradualismo evolutivo.

LEI DO ANCESTRAL COMUM

Por fim, temos a lei do ancestral comum. Esta última, inclusive, muitos criacionistas não negam que exista e alegam que sim, a Bíblia fala de ancestralidade comum.

Essa lei diz que todo grupo de organismos descende de um ancestral comum. Os dinossauros e as aves, por exemplo, divergiram de um mesmo ancestral (isso está documentado por não um, mais vários fósseis). Já os lobos e os cachorros, por sua vez, também divergiram de um mesmo ancestral. Enfim, se pegarmos todas as transições ancestral-descendente teremos uma árvore da vida dos seres vivos. E isso não é nem um pouco antibíblico. Em Gênesis 1:21, por exemplo, Deus cria os seres marinhos e aves do céu segundo as suas espécies. Esse termo, "segundo a sua espécie", na sua raiz hebraica original Baramin, remete a espécie no sentido de "tipo básico", "modelo básico de animal", o que aponta para espécies possuindo uma origem comum a partir de um tipo básico, ou como é dito cientificamente, um ancestral comum.

Uma boa parte dos criacionistas da Terra Jovem, nos dias de hoje, entendem que o termo "espécie" em Gênesis tem esse exato significado (o de uma origem por um ancestral comum) contudo eles dizem que há limitações na evolução das espécies, sendo possível apenas a microevolução. No entanto, a Bíblia não fala de limitação genética nenhuma, e também diversos estudos comprovam que a lei do ancestral comum diz respeito á macroevolução também, ou seja, existem provas da macroevolução. Uma delas, pouco mencionada pelos criacionistas, é uma experiência que o paleontólogo Jack Horner fez com um embrião de galinha, onde ao reativar o seu "DNA lixo" (genes antes ativos em espécies ancestrais) fez com que o embrião adquirisse características encontradas em espécies que tinham parentesco próximo com os dinossauros, como dentes no bico por exemplo.

CONCLUSÃO

Com tudo isso, vemos que a Bíblia indica que toda a variedade de espécies teve origens comuns, ou seja, várias "arvorezinhas da vida", que estariam interligadas biblicamente por terem uma mesma origem - pó da terra - e também um código genético universal (que aponta também um único Criador), o que por sua vez coloca todos os seres vivos em uma única árvore da vida, cuja raiz é a matéria primordial do qual a Bíblia fala. Coincidentemente ou não, esse é o perfeito e exato contexto da teoria da evolução.

Basta um pouco de bom senso e questionamento acerca daquilo que nos é oferecido como "verdade inquestionável" tanto no campo científico como no campo "religioso", e solicitar orientação a Deus, para que possamos ver que toda a briga que o criacionismo faz contra o conceito da evolução não traz melhoria nenhuma, nem para a ciência, pois os próprios postulados da teoria da evolução estão de acordo com a Bíblia (como acabamos de ver) nem para o campo espiritual, pois tentar pregar o evangelho usando postulados falsos (como o criacionismo vem fazendo direto, infelizmente) é fundar o alicerce de sua "casa" na areia, pois basta uma simples enchurrada e a casa desaba inteira. Mas se nós nos firmarmos na Verdade, e na Verdadeira Rocha (Jesus, que é o caminho, a verdade e a vida), pode vir a enchurrada que for que a casa permanecerá em pé!

BIBLIOGRAFIA:

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