É simplesmente estranhíssimo que a chamada "evolução do cavalo" não seja aceita dentro do padrão criacionista. Isso porque nessa evolução nenhum "animal novo" é criado: todas as transformações dessa história ocorrem dentro da família dos Equídeos, e é clarividente as transformações que ocorreram de um tipo a outro devido a mudança do ambiente em que essas criaturas viviam - que deixou de ser o de uma densa floresta para uma extensa pradaria - mas, sempre, "cavalos". Ou seja, trata-se de uma "microevolução". Só temos uma "macroevolução" quando vamos para antes do ancestral comum de todos os equídeos, mas aí é outra história...
Sabemos que o verdadeiro sentido da palavra "evolução" é de modificações biológicas ao longo do tempo. Os Criacionistas da Terra Jovem aceitam evolução apenas em níveis de pequenas modificações, ou como eles geralmente afirmam - ainda que esse termo não seja mais verdadeiramente usual entre os cientistas - "microevolução". Grandes mudanças, que venham a inaugurar "ordens e classes" de seres vivos são rejeitadas: para eles cada "grupo básico" de seres teve um ancestral comum. É como se, ao invés de uma árvore da vida, tivéssemos várias arvorezinhas. Mas toda regra tem excessão: os criacionistas dessa linha, muito estranhamente, não aceitam a mais bem documentada das "microevoluções": a do cavalo.
Iremos agora analisar os argumentos usados pelos criacionistas contra as evidências de adaptações biológicas dentro da família dos Equídeos, o qual pertencem o cavalo, o asno, a zebra e diversas espécies extintas. Será que encontraremos os mesmos níveis de argumentação mostrados nos artigos anteriores que já foram refutados nessa série? Será que eles irão de novo "tirar o(s) cavalo(s) da chuva", alegando que eles estão corretos numa versão "fixa" do cavalo e a perspectiva evolutiva errada, mas mentindo e ocultando fatos? Ou irão se embasar em argumentos fortes e convincentes?
ACEITAM TUDO - MENOS ESSA
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Os criacionistas aceitam que Dugongos e Manatis vieram de
um único tronco, mas não aceitam nenhuma evolução dentro
da família dos Equídeos... |
Entretanto, talvez haja um motivo da não-aceitação da "microevolução" do cavalo: a evolução do cavalo, se aceita, poderia significar numa evidência da eficiência dos métodos de datação, já que eles concordam com a ordem apontada das espécies. Ainda assim, há artigos criacionistas que mostram que as "micro-evoluções" dentro dos grupos de dinossauros são aceitas, e da mesma forma, os métodos de datação também concordam com os mesmos... Um exemplo é a evolução das famílias dos Dugongos e Peixes-boi, onde os criacionistas admitem que um animal fóssil, chamado
Protosiren, foi corretamente identificado como ancestral comum dessas duas famílias. Para eles, o
Protosiren seria o "tipo básico originalmente criado", e essa seria a única divergência deles com os evolucionistas nesse ponto, já que os evolucionistas também apontam o
Protosiren como ancestral comum.
Enfim, é um caso muito estranha a não-aceitação dessa "evolução". E vamos analisar a argumentação que se têm contra isso a partir de agora. Usaremos como base
um artigo encontrado no site Answer in Genesis, que é um famoso site que milita - isso mesmo, milita - o Criacionismo da Terra Jovem em detrimento de quaisquer outro pensamento em torno do Gênesis. Recomendamos, então, primeiro a leitura desse artigo (clique no link do texto). Depois, confira as refutações, que virão logo abaixo:
O PRIMEIRO ESTÁGIO: EOHIPO
De acordo com os cientistas, o equídeo que foi o ancestral comum de toda essa história foi um animal pequeno, do tamanho de uma raposa, chamado Eohipo, do gênero
Eohippus. Mas apesar do tamanho e de algumas características "incomuns" - que iremos tratar mais adiante - é indiscutivelmente um tipo de cavalo.
Sobre o Eohipo, o referente artigo começa discorrendo sobre a história de seus achados fósseis. E é aí que começam os equívocos que, como sempre, constituem em "detalhezinhos" que passam batidos aos olhos do leigo, mas não de quem conhece bem o assunto:
"Em 1841, o mais antigo fóssil chamado de "cavalo" foi descoberto em argila nos arredores de Londres. O cientista que revelou ele, Richard Owen, encontrou um crânio completo que parecia uma cabeça de raposa com vários dentes de trás iguais aos de animais com cascos. Chamou-o Hyracotherium
. Ele não viu nenhuma conexão entre ele e o cavalo moderno."
Em primeiro lugar, o crânio não foi achado completo, como diz errôneamente o texto. Richard Owen apenas encontrou esses fósseis da foto abaixo: uma parte fragmentada da caixa craniana - com parte das maxilas superiores - e fragmentos de dentes e mandíbulas.
Era o primeiro fóssil de um equino anão extinto, e a escassez do fóssil permitiu apenas que Owen classificasse esse animal como um pequeno animal ungulado, com cascos, parente dos Hyrax - daí o nome "
Hyracotherium" (o Hyrax é um pequeno animal, com aparência de uma marmota, que existe na atualidade). Não havia evidência suficiente para dizer que o Hyracotherium era um cavalo - até porque não era um cavalo "normal" - na época, logo, é óbvio que Owen não viu nenhuma conexão entre ele e o cavalo moderno.
Só para ter uma noção, compare abaixo o crânio do Hyrax (direita) com o do Eohipo (esquerda):
Iguaizinhos, né?
#sóquenão...
Em seguida, o artigo criacionista diz:
"Em 1874, outro cientista, Kovalevsky, tentou estabelecer uma ligação entre esta pequena criatura que parece uma raposa, o que ele pensava que era de 70 milhões de anos, eo cavalo moderno."
De fato, Vladimir Kovalevsky tentou estabelecer pela primeira vez essa ligação, em 1874. Porém, é só isso que está certo nesse comentário, pois em primeiro lugar, Kovalevsky não considerava esse fóssil como tendo 70 milhões de anos, mas sim como sendo mais jovem: 52 milhões de anos. E não é só isso: o que foi omitido no artigo é que quem datou primeiro o fóssil com essa idade... foi o próprio Richard Owen! Sim, a idade não foi proferida inicialmente por Kovalevsky, como o artigo quer fazer parecer, como se fosse uma ideia ateísta-evolucionista (não há nem indícios de que Kovalevsky era ateu...). Sem falar na ideia errada de que "idade antiga de fósseis é coisa de naturalista". Não é. Tanto é que os primeiros cientistas a mexer com datação eram "Criacionistas da Terra Antiga".
Reinterpretação de fósseis é algo muito comum na paleontologia, ao contrário do que o artigo criacionista quer fazer aparecer. Às vezes um detalhe não percebido por determinado cientista é percebido por outro. É o caso, por exemplo, da mudança de postura do Tiranossauro Rex ou mesmo a
mais recente classificação que fez com que o famoso Brontossauro voltasse a ser válido.
Continuemos a ver a argumentação.
"Em 1879, um especialista americano em fósseis, OC Marsh, e o famoso evolucionista Thomas Huxley, colaboraram para uma conferência pública que Huxley deu em Nova York. Marsh produziu um diagrama esquemático que mostra uma tentativa para o chamado desenvolvimento dos pés dianteiros e traseiros, as pernas, e os dentes das diferentes fases do cavalo. Ele publicou seu diagrama evolucionista no American Journal of Science em 1879, e ele encontrou o seu caminho em muitas outras publicações e livros didáticos. O padrão não mudou. Ele mostra uma sequência graduativa bonita da "evolução" do cavalo, ininterrupta por quaisquer mudanças abruptas. Isto é o que vemos nos livros escolares."
Lembra que eu havia dito dos fósseis escasos que Owen analisara? Então, o comentário acima omitiu que Othoniel Charles Marsh havia encontrado vários
esqueletos completos do que se chamou de "
Eohippus", considerado na época um animal diferente do que Owen havia encontrado. Mas não foi só isso que permitiu a reconstrução de Huxley, mas sim também a de outras descobertas que o artigo simplesmente omitiu, mas que comentaremos mais adiante. Ou seja, essa "bonita" sequência foi possível graças a muitos fósseis achados, e não "ainda com os restinhos de Owen"! Um detalhe interessante também é que, de fato, Sir Clive Forster Cooper, em 1932 propôs que o achado de Owen consistia no mesmo animal achado por Marsh, porém, recentemente, um estudo mais amplo mostrou que
Hyracotherium e
Eohippus, embora sendo animais aparentados, eram de gêneros diferentes.
A sequência proposta por Huxley e que, de fato, ainda aparece em muitos livros didáticos, é essa:
Aí podemos então, partir para uma próxima análise, se de fato esse esquema está correto. O artigo do Answer in Genesis fez essa exata análise, e vamos estudar essa análise que eles fizeram. Assim podemos ver o que é verdade e o que não é verdade tanto sobre o esquema acima - que ressalto mais uma vez, é um exemplo de "microevolução" - quanto sobre o que os criacionistas da terra jovem dizem.
Antes, entretanto, é importante notar uma crítica bem fundamentada não só ao modelo de Huxley mas também aos livros didáticos que apresentam a imagem acima...
QUEM DISSE QUE FOI ALGO SUSCESSIVO?
Hoje em dia os biólogos entendem que o processo evolutivo não é tão simples como se pensava - e muito menos sequencial. Vários fósseis têm sido encontrados e todos eles mostram um "crescimento evolutivo em árvore", e não uma linha suscessiva. É por isso, inclusive, que o termo "elo perdido", cientificamente falando, é inadequado.
Quando Huxley propôs esse esquema, os estudos de evolução estavam se iniciando, e aos poucos, a ideia de evolução sequencial foi sendo substituída em uma que ocorre em "árvore", como uma "árvore genealógica dos seres vivos". Essa é basicamente a falha real que existe no esquema de Huxley, e por isso que livros didáticos não deveriam exibir a evolução dos equinos dessa forma. Entretanto, isso não quer dizer que Huxley errou em suas deduções em torno dos fósseis referente a posição de cada espécie no registro fóssil, pois de fato aqueles fósseis existem e até hoje e a maioria é interpretada da mesma forma que Huxley interpretou, salvo algumas excessões como o
Pliohippus, que é considerado como não sendo ancestral direto do gênero
Equus hoje em dia.
Esquematizando, a ilustração mais correta para a evolução do cavalo é desse jeito, no sentido de "trajetória"
(errata 1: esse esquema ainda apresenta o nome "
Hyracotherium", mas esse nome não é mais usado para o gênero
Eohippus conforme foi dito anteriormente; errata 2: é provável que o Pliohippus tenha dado origem ao gênero
Austrohippus, enquanto que atualmente considera-se os verdadeiros ancestrais do cavalo os gêneros
Dinohippus e
Plesihippus).
CAVALOS "ESPANTALHOS"
Mas quando os criacionistas vão fazer a crítica a essa "micro-evolução" (o que ressalto novamente que é esquisito), eles atacam o esquema acima? Não! Atacam o esquema de Huxley! Essa é uma estratégia de argumentação é conhecida como
Falácia ou Estratégia do Espantalho. Nessa estratégia, o oponente "abraça" uma versão mais frágil, um "espantalho" do real modelo de seu rival, e assim - justamente por ser uma versão mais fraca do que realmente é - ataca esse modelo-espantalho, obtendo assim uma aparente vitória sobre seu oponente. Não é uma estratégia honesta, convenhamos... Mas é exatamente a que os criacionistas usam aqui (e não só nesse caso, mas em outros temas também, embora isso seja tema para outros artigos...)
Destrinchando a "análise" da evolução do cavalo atestada no Answer in Genesis, podemos ver nesse primeiro trecho o uso da falácia do espantalho e juntamente, de uma informação totalmente falsa:
"Se ela (a evolução) fosse verdade, você esperaria encontrar os fósseis de cavalos mais antigos nas camadas rochosas mais baixas. Mas não é o que acontece. De fato, ossos dos supostos “primeiros” cavalos foram encontrados na superfície ou próximos dela. Algumas vezes eles são encontrados bem próximos a fósseis de cavalos modernos!"
Primeiramente, existe uma falácia na alegação acima... Ocorre que muitas vezes, um terreno, por erosão, acaba por mostrar em sua superfície alguns fósseis, mas isso não quer dizer que os fósseis sejam recentes, mas sim que o terreno em que eles estão é que é antigo. Os vários fósseis do Eohipo, por exemplo, foram achados em terrenos do Eoceno, ou seja, aquelas rochas ali, devido a ação do tempo acontecendo, ficaram expostas ao ar livre e colocaram os fósseis em exposição. E a alegação de que fósseis de cavalos modernos foram achados lado a lado com fósseis dos primeiros cavalos é, simplesmente, falsa. O autor afirma isso sem embasamento nenhum, pois os fósseis de cavalo moderno sempre são achados em camadas do Pleistoceno, enquanto que as espécies anteriores são achadas em camadas do Plioceno para trás.
"O. C. Marsh fez observações sobre cavalos vivos com múltiplos dedos nas patas, e disse que houve casos no Sudoeste Americano em que "tanto as patas da frente como as de trás teriam cada uma dois dedos extras razoavelmente desenvolvidos, e todos de tamanho aproximadamente igual, correspondendo, assim, às patas do extinto Protohippus". Na National Geographic (Janeiro 1981, p. 74), há uma foto da pata de um assim chamado cavalo primitivo, o Pliohippus, e uma do moderno Equus que foi encontrado no mesmo sítio vulcânico em Nebraska. O escritor diz: "Dúzias de espécies de animais com cascos viveram nas planícies americanas." Isso não sugere duas espécies diferentes, em vez da progressão evolutiva de uma?"
Quando li essa alegação, resolvi ir atrás da fonte, ou melhor, o que realmente eram essas cavalos polidátilos, pois o argumento faria sentido caso o criacionista em questão fizesse essa alegação honestamente. E numa análise rápida, percebi algo que não poderia deixar de ser...
Abaixo, uma imagem da publicação de Marsh, sobre os cavalos recentes "polidátilos":
Uau! Temos então cavalos com mais de um dedo que não eram ancestrais... Porém... esses dedos extras na verdade são má formações, ou melhor, genes reativados acidentalmente de características ancestrais, mas não é uma característica de determinada raça de cavalo. No caso dos cavalos fósseis, lembre-se que por vezes encontra-se mais de um indivíduo junto com "polidactilia", como é o caso do Eohipo. E mais: A estrutura dos "dedos extras" dos cavalos ditos ancestrais é simplesmente diferente da dos "cavalos polidátilos recentes":
- O Eohipo e o Hiracotério tinham 4 dedos parecidíssimos com os de um cachorro, e sua estrutura indica que eram também "almofadados". Nenhum cavalo polidátilo vivo hoje apresenta pata assim. Da mesma forma, a morfologia do pé de gênero pra gênero de equino não varia só em número de dedos, mas também em formato dos mesmos.
- Observe que os cavalos com má formação apresentam sempre DOIS dedos. O Eohipo e o Orohippus tinham QUATRO, o Mesohippus tinham TRES e UM DEDO A MAIS VESTIGIAL, o Merychippus, Hippariom, Megahippus tinham TRÊS DEDOS e um com casco, e por fim, o Dinohippus tinha um casco com mais DOIS DEDOS VESTIGIAIS. No caso do gênero Equus, mencionado por O. C. Marsh, pode acontecer de aparecer cavalos com mais de um dedo, mas o número sempre é dois, e não quatro.
Para finalizar, veja essa imagem do cavalo do artigo do O. C. Marsh, um moderno cavalo polidátilo, com uma imagem de como teria sido o Eohipo. Observe as patas dos dois.
Por que o artigo do Answer in Genesis não colocou essas informações? Porque colocariam seu texto em descrédito no mesmo instante e atrapalharia e muito a lógica forjada pelo autor do texto.
Reiterando, mais uma vez, que essa discussão em torno da evolução do cavalo nem deveria acontecer no âmbito criacionista, já que trata-se de um caso de "micro-evolução"... A gente acaba tendo, nesse caso, evolução de cavalo para cavalo, não de cavalo para outro animal que não seja cavalo...
"Não há um único sítio arqueológico no mundo onde a sucessão evolutiva do cavalo possa ser vista. Pelo contrário, os fragmentos fósseis têm sido coletados de vários continentes na suposição de um progresso evolutivo, e então usados para dar suporte à suposição. Isto é raciocínio circular e não se qualifica como ciência objetiva."
Invertendo a situação, será que seria coerente encontrarmos a sucessão evolutiva do cavalo num único sítio arqueológico? Levando em conta que fósseis se formam só em condições especias, e animais migram e mudam conforme a mudança do ambiente (sim, me refiro a Seleção Natural aqui), as chances de acharmos a sucessão evolutiva do cavalo num único sítio arqueológico é praticamente zero! Ainda, também é uma meia verdade a alegação de que "os fragmentos fósseis têm sido coletados de vários continentes", pois a maioria dos fósseis que temos da evolução do cavalo são da América do Norte, e ainda quando são de continentes diferentes, há evidência de migrações também. Ou seja, não é feita uma busca desenfreada por "elos perdidos", como se fosse uma "missão" (OBS: geralmente criacionistas da Terra Jovem é que agem assim, procurando em todos os lugares, de todas as formas, evidências de que as espécies básicas foram criadas inteirinhas há poucos milhares de anos).
"A teoria da evolução do cavalo tem problemas genéticos muito sérios a superar. Como nós explicamos as variações no número de costelas e vértebras lombares dentro da progressão evolutiva imaginada? Por exemplo, o número de costelas nos estágios supostamente "intermediários" do cavalo varia de 15 a 19 e então finalmente se estabelece em 18. O número de vértebras lombares também pretensamente oscila de seis a oito e então retorna a seis novamente."
Números de costelas e vértebras lombares não devem necessariamente seguir linhas progressivas. Esse pensamento errado advém daquela ideia de que evolução "caminha sempre em linha reta". Ademais, onde isso entra como "problema genético", quando a presença ocasional de dedos vestigiais em patas de cavalos atuais, como vimos, mostra que o cavalo em seu passado não tinha um único casco?
"Finalmente, quando os evolucionistas assumem que o cavalo tem crescido progressivamente em tamanho ao longo de milhões de anos, o que eles esquecem é que os cavalos modernos variam enormemente em tamanho. O maior cavalo hoje é o Clydesdale; o menor é o Fallabella, que permanece em 43 Callable (17 polegadas) de altura. Ambos pertencem à mesma espécie e nenhum evoluiu a partir do outro."
Esse último argumento termina por mostrar o pensamento errado dos criacionistas sobre a evolução do cavalo. Eles acham que os evolucionistas baseiam-se apenas em números de dedos e tamanho do cavalo. No entanto, a análise vai muito além disso, e é certo dizer que aumento de tamanho não é o único parâmetro para a análise da evolução do cavalo, embora seja um dos. A estrutura óssea de espécie para espécie, muda totalmente, justamente pelo fato de
não pertencerem ao mesmo gênero! Uma coisa é o gênero
Eqqus, do cavalo moderno, outra coisa é o gênero
Hypparion,
Pliohippus,
Eohippus, e por aí vai. Para quem não sabe, um gênero - sempre determinado pelo primeiro nome (por exemplo, no nome científico
Equus cabalus, "
Eqqus" indica gênero e "
cabalus" espécie) -pode englobar várias espécies. Logo, é errado dizer que o
Merychippus, por exemplo, é da mesma espécie que o
Equus, uma vez que por si só já são de gêneros diferentes.
Por isso que eu disse que o artigo lança mão da "falácia do espantalho", pois alega que os cientistas dizem algo que de fato não dizem; aí depois para refutar esse "algo", obviamente, é muito fácil.
DE OLHO NOS CRÂNIOS
Mas, como eu sempre digo, uma imagem vale mais que mil palavras. Vamos agora fazer uma comparação diferente em relação a evolução dos cavalos, que simplesmente nenhum criacionista se debruçou até hoje, até onde eu sei: comparação de crânios!
Abaixo, colocaremos o crânio do cavalo moderno (gênero Eqqus) sempre a esquerda do crânio de algumas das espécies ancestrais que se conhece pelos fósseis. Por falta de tempo não coloquei todas... Em seguida, uma descrição sobre o crãnio da espécie ancestral.
Comparando com Eohippus
A mudança mais significativa foi nos dentes, que começaram a se adaptar à uma dieta em mudança, uma vez que estes equídeos passou de uma dieta mista de frutas e folhagem para um enfoque cada vez mais em pastagem.
Comparando com Mesohippus
Além de um crânio mais alongado que o de seus antepassados, ele tinha hemisférios cerebrais significativamente maiores, e tinha uma pequena depressão rasa em seu crânio, chamada de "fossa", que nos cavalos modernos é bem mais "detalhada" (a fossa serve como um indicador útil para a identificação de espécies fósseis de eqüinos). Ele tinha seis "dentes de moer", com um único pré-molar na frente - uma característica que ficaria registrada em todos os equídeos descendente ele. O Mesohipo também teve as cristas dos dentes mais afiados que o dos seus antepassados, melhorando a sua capacidade de triturar a vegetação resistente.
Comparando com Miohippus
ua fossa facial era maior e mais profundo, e também começou a mostrar uma crista adicional variável em seus dentes de mordente superiores, uma característica que se tornou uma característica de dentes eqüinos.
Comparando com Merychippus
Tinha molares mais largos do que seus antecessores, que se acredita ter sido usado para triturar as gramíneas duras das estepes.
Comparando com Hipparion
O que mais difere o
Merychippus do
Hipparion é a estrutura do esmalte dos dentes: em comparação com outros equídeos, o interior teve uma barrage completamente isolada.
Comparando com Dinohippus
Seu crânio tinha fossas faciais profundas, e no gênero Equus não é tão profunda assim. Além disso, seus dentes estavam fortemente curvados, ao contrário dos dentes muito retas de cavalos modernos.
Comparando com um Equus fóssil de uma espécie diferente achada no "Rancho de La Brea"(sim, é igual, mas coloquei pra mostrar que aí sim é o mesmo gênero).
Só essa pequenina comparação mostra que:
- É visível que todos esses animais são realmente da mesma família, pois os crânios possuem similaridades (portanto, isso já dá um "fatality" na alegação de que o Eohipo era um tipo de Hyrax)
- É visível que não se tratam de espécies diferentes de cavalos modernos
- Há uma linha de "progressão" clara entre um animal e outro, e cada vez mais ele fica parecido com a imagem a direita. Isso não só em aparência, mas em detalhes anatômicos sutis.
- A evolução do cavalo não se sustenta apenas em tamanhos e dedos...
Se fosse apenas algo de primeira vista, poderíamos dizer que essas transformações são apenas aparentes e que esse arranjo é tendencioso, no entanto, as imagens das espécies ancestrais foram postas aí em ordem cronológica e, como se vê nas descrições, é uma soma de características transitivas. Você ainda pode insistir que tais gêneros foram "criados individualmente", mas as evidências em relação a isso pesam mais em cima do quê?
MUITOS GÊNEROS
Enfim, deixo registrado abaixo, mais para efeito de conhecimento mesmo, a maioria dos gêneros que são considerados como tendo feito parte da evolução do cavalo:
Eohippus
Orohippus
Epihippus
Mesohippus
Miohippus
Kalobatippus
Parahippus
Merychippus
Protohippus
Hyparion
Dinohippus
Plesihippus
E COMO FICA O CRIACIONISMO?
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Se o Protosiren é tido pelos criacionistas como o
"tipo básico" do peixe boi, por que não considerar
o Eohipo como "tipo básico" dos cavalos? |
Com tantas evidências mais a favor de uma "microevolução" documentada do cavalo do que contra, no que isto prejudica o criacionismo? Em praticamente nada. Isso porque, como dissemos no início desse artigo, a evolução do cavalo acontece dentro da família dos equinos, ou seja, não há transformações consideráveis aí. No conceito da Baraminologia, a "ciência" que estuda os tipos básicos defendidos pela proposta criacionista, uma mesma família pode ter surgido a partir de um ancestral comum básico. Isso seria uma "micro-evolução", como dissemos no começo do texto. No caso da evolução do cavalo, para os criacionistas, as evidências mostradas aqui apenas "dá nome" ao tipo básico, que no caso, seria o Eohipo, pois segue-se como microevolução. A mesma coisa acontece com os manatídeos (peixes-boi) e dugongídeos (dugongos): existem evidências suficientes que mostram que o ancestral comum de todos os animais da família dos peixes-boi seria o
Protosiren, e os criacionistas apontam-no como o provável "tipo básico" numa boa. Porque, então, não considerar o Eohipo como tipo básico?
Não estou defendendo, nesse ponto, a visão do Criacionismo da Terra Jovem quanto ao desenvolvimento da vida. Apenas estou mostrando que mesmo para o criacionista mais ferrenho não há a menor necessidade de lançar mão de falácias para contestar a evolução do cavalo, uma vez que ela serve tanto para o modelo "criacionista" para o modelo "evolucionista", variando apenas na velocidade em que essa transformação aconteceu (milhões de anos ou milhares de anos).
CONCLUSÃO
Com isso, vemos que o estudo da evolução do cavalo é muito mais complexo do que se imagina, e bem fundamentado. Ou seja, ainda que não fosse tão bem fundamentada na época em que era apenas uma hipótese proposta por Huxley e Othoniel Charles Marsh, o estudo da evolução do cavalo têm mostrado que a hipótese de ambos estava certa. E é assim que funciona em ciência: a hipótese é lançada, e depois ou é comprovada ou descartada. Porém, infelizmente, encontramos na contra-argumentação à evolução do cavalo o mesmo nível de argumento dos artigos que já refutamos nessa série. E digo infelizmente com muito pesar, porque isso é advindo de cristãos. O cristão não deve dizer o que a Bíblia não diz, claro, mas também não deve dizer o que a ciência não diz. Usar a falácia do espantalho para provar a Bíblia é nada mais do que alicerçar a palavra de Deus num "espantalho literal", um boneco de palha que ao menor sopro se desfaz. Também vimos que todo esse malabarismo e desonestidade na argumentação é simplesmente desnecessário, pra não dizer inútil, visto que a maior parte dos criacionistas hoje em dia defende a evolução a nível de família, chamada de "micro-evolução".
Que esse artigo possa, além de nos motivar a estudar cada vez mais para não "perecer por falta de conhecimento", servir como um alerta sobre se é ou não necessária determinada discussão. Às vezes estamos tentando combater algo que não é sequer necessário... É uma questão "louca", que apenas só irá gerar divisão e fruto nenhum.
Finalizando, como disse o Apóstolo Paulo em Tito 3:9:
Mas não entres em questões loucas, genealogias e contendas, e nos debates acerca da lei; porque são coisas inúteis e vãs.
BIBLIOGRAFIA
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https://answersingenesis.org/evidence-against-evolution/horse-non-sense/
https://en.wikipedia.org/wiki/Baraminology
http://creationwiki.org/Macroevolution
http://creationwiki.org/Sirenians_(Talk.Origins)
Hunt, Kathleen (1995). "Horse Evolution"
Prothero, D. R. and Shubin, N. (1989). "The evolution of Oligocene horses". The Evolution of Perissodactyls (pp. 142–175). New York: Clarendon Press.
Fossil Horses In Cyberspace. Florida Museum of Natural History and the National Science Foundation.
MacFadden, B. J. (1984). "Astrohippus and Dinohippus". J. Vert. Paleon 4 (2): 273–283. doi:10.1080/02724634.1984.10012009.
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https://en.wikipedia.org/wiki/Horse_teeth
https://en.wikipedia.org/wiki/Evolution_of_the_horse
http://hoofcare.blogspot.com.br/2011/05/polydactyl-people-and-ponies-gallery-of.html