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quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

Por trás do Criacionismo da Terra Jovem 25: Ataque à cauda no âmbar



Uma descoberta recente fez um verdadeiro alarde na comunidade científica, pois havia sido encontrado em âmbar, de maneira intacta, uma cauda de dinossauro conservada em âmbar! É a primeira vez que algo assim é encontrado, e não é só isso: a cauda possuía penas num estado "intermediário" que confirmava algumas hipóteses dos cientistas sobre a formação das penas em aves (não que isso não contasse já com outras afirmações...). Diante de tal descoberta, durante mais ou menos uma semana, os criacionistas ficaram calados... até que decidiram se pronunciar a respeito.

Este artigo da série "Por trás do Criacionismo da Terra Jovem", assim como no artigo "ataque aos crocodilomorfos", trará uma crítica a uma série de comentários em cima da notícia, que para o leigo parecem "sensatos", mas que para quem conhece do assunto está cheio de erros e falácias (lembre-se que, infelizmente, a mentira é uma marca registrada do Criacionismo da Terra Jovem, e nos outros artigos desse blog é possível constatar isso).

Bom, vamos ao artigo. Leia ele na íntegra... em seguida, leia a análise abaixo...

O artigo: http://www.criacionismo.com.br/2016/12/cauda-de-dinossauro-e-preservada-em.html

Antes dá análise, tem duas colocações importantes a serem feitas: uma é que o site "criacionismo.com" é adventista e do jornalista Michelson Borges, que é criacionista da terra jovem declarado e que defende os mesmos pontos já denunciados aqui neste blog. A outra colocação é que o autor da seguinte crítica, no caso, não é o Michelson (que apenas compartilhou a crítica) mas sim pelo teólogo Alexandre Kretzschmar. Ele é formado em Teologia pela FAETAD e é redator/idealizador do projeto Onze de Gênesis, ou seja, ele não é um entendido do assunto de paleontologia e é militante do Criacionismo da Terra Jovem (tendo em conta a conotação do seu projeto). Assim sendo, não é nada estranho a tal crítica ter vários furos - e tem, como veremos a seguir...

A análise da crítica:

"O artigo da Current Biology cita “o arranjo espacial dos folículos e penas no corpo, e recursos em escala micrométrica da plumagem. Muitas penas exibem uma curta raque, esguio, com alternância de farpas e uma série uniforme de bárbulas contíguas”.[2] Por que os autores não explicam a estreita semelhança dessas penas com as de aves que vivem hoje? De fato, essa descoberta em âmbar prova que as penas encontradas no registro fóssil são iguais às de hoje em dia, sem transição."

Elas são bem similares a penas atuais das aves, mas não em tudo. Conforme é dito no site da BBC, que também anunciou a descoberta: "A análise (do fóssil) revela que as plumas do dinossauro, que deve ter vivido há 99 milhões de anos, não apresentavam um eixo central bem desenvolvido.

 Sua estrutura sugere que dois níveis de ramificação das penas modernas, conhecidos como farpas e barbas, surgiram antes do seu eixo central ser formado.". Então eram similares às das aves modernas, mas não tãão similares assim. Pior, essa ideia dos dois níveis de ramificação terem surgido antes do eixo central já era uma hipótese proferida por cientistas antes dessa descoberta...

"Sabemos que aves já foram classificadas erroneamente como dinossauros. Um caso clássico é o Archaeopteryx que, erroneamente, é apresentado como fóssil transicional da evolução dinossauro-ave. Porém, as evidências mostram que ele é apenas uma ave extinta e não um dinossauro. Os fósseis mostram que o Archaeopteryx tinha uma cauda longa e ossuda como o fóssil apresentado no âmbar."

O Archaeopteryx até hoje é considerado uma criatura de transição, ao contrário do comentário, conforme pode ser visto neste link - - e ainda existem debates de se poderia ser enquadrado como ave ou como dinossauro. Mas mais do que isso, há diferença da cauda do Archaeopteryx e do âmbar! Embora seja de fato "ossuda", o aspecto das vértebras da cauda do Archaeopteryx são significativamente diferentes do de um dinossauro celurossauro - que é o dono desta cauda. Abaixo, uma comparação dos ossos da cauda do Archaeopteryx com os ossos + tecido da cauda encontrada em âmbar:

Archaeopteryx
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Cauda em âmbar




"Outra ave extinta que tinha cauda com muitas vértebras é o Shenzhouraptor sinensis, com cerca de 25 vértebras, e nem por isso podemos classificá-la como dinossauro"

25 vértebras diferentes da cauda encontrada no âmbar... veja

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E agora, pra colocar "mais lenha na fogueira, uma singela comparação da cauda do Velociraptor(dinossauro) com a do âmbar...

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Acontece que e sempre bom lembrar que os paleontólogos não brincam de "ser paleontólogos"... Paleontologia é uma profissão séria e a verdade nesse caso é que a identificação como uma cauda de dinossauro foi feita frente a estudos sérios, ou seja, não se trata de uma "tentativa de promover neodarwinismo"...

e o texto prossegue:

"Olhando para as espécies atuais, não encontramos nenhum réptil com penas. Mas, num olhar no passado, encontramos fósseis de répteis que tinham penas. Não se trata de “fósseis transicionais” nem de “elos perdidos”, mas, sim, de espécies extintas. Um exemplo de réptil empenado é o Longisquama insignis."

Primeiramente, a interpretação do Longisquama insignis com penas é uma interpretação errônea do ornitólogo Alan Feduccia, que já chegou até a defender que o Velociraptor era uma ave e não um dinossauro apenas para "encaixar" os fatos no seu paradigma de que as aves teriam se originado de crocodiliformes. A maioria dos cientistas concorda que o Longisquama era um arcossauromorfo com escamas prolongadas, e não penas. Veja os fósseis originais de Longisquama e a reconstituição mais atual do mesmo:

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Além disso, cabe a pergunta: se há répteis com penas de acordo com o pensamento "criacionista fixista", como é que os tais possuem estrutura de penas similares ás das aves?? Sim, o comentarista acabou de se contradizer ligeiramente...

Além disso, é sempre importante lembrar que existem sim fartas evidências de dinossauros - no sentido literal da palavra - com penas, e pra infelicidade dos criacionistas, com detalhes anatômicos em comum com os dinossauros. Abaixo,a foto de um fóssil de Microraptor - da mesma família do Velociraptor -, com as penas bem conservadas, que a propósito, tem uma história interessante: quando seus primeiros fósseis foram divulgados, foram denunciados como embuste em vários sites criacionistas, porém, depois quando se acharam uma gama de esqueletos desse gênero, "misteriosamente" os criacionistas se calaram e continuam calados até hoje (para saber mais sobre essa história clique aqui). Veja:

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"O interessante do texto na revista Current Biology é que eles citam que as amostras foram encontradas com “tecidos moles” e bem preservados. Sugere que vestígios de hemoglobina primário e ferritina permanecem presos dentro da cauda. Como poderiam tecidos moles ser preservados depois de 99 milhões de anos?"

Novamente, a história dos tecidos moles... mas dessa vez a explicação é mais fácil: âmbar contem um teor de preservação absurdamente melhor do que o da mineralização, pois o corpo do organismo fica isolado e livre de quaisquer agente decompositor. É que o âmbar é na verdade seiva de árvore que cobriu determinado ser/objeto e se solidificou, e com a polimerização da resina, ela gera um objeto resistente ao tempo e a água, isolando completamente o que está encrustado dentro dele. Observe por exemplo a imagem abaixo de um âmbar com uma cabeça de lagartixa datada do Eoceno - 54 milhões de anos atrás:



Existem até âmbares mais antigos que a própria cauda! Este abaixo é de um artrópode extinto do período Triássico, de 230 milhões de anos atrás!




"Outra questão que nos chama a atenção é a “sujeira” que foi encontrada junto com as amostras de âmbar. Podemos encontrar detritos e até insetos, como foto acima: uma formiga inteiramente preservada. A pergunta que não podemos deixar de fazer é: Será que essa espécie de formiga não sofreu quase nenhuma evolução em 99 milhões de anos, já que é similar às espécies atuais?"

A formiga encontrada não era do mesmo gênero e espécie das modernas, e o pensamento de que "se houve evolução ela deveria ser diferente" está errado. A origem das formigas remonta exatamente á Era dos Dinossauros, e esses animais, por terem um plano corporal bem adaptado, não se modificaram muito. É sempre bom levar: os organismos não são obrigados a estarem em evolução constante, pelo contrário, os estudos mais recentes apontam que, para haver uma evolução de larga escala são necessários N fatores combinando entre si (aliás, isso deixa a evolução um pouco mais difícil de ser explicada pelo naturalismo, porém, como diz William Lane Craig, "se a evolução foi um milagre e ocorreu torna-se uma poderosa prova a favor da existência de Deus" - mas esse não é o assunto do presente artigo).

" origem do fóssil encontrado é duvidosa. Enquanto fazia compras em um mercado de âmbar em Myanmar (antiga Birmânia), a amostra foi encontrada. Isso é muito preocupante quando falamos em “transicionais”, pois sabemos que a credibilidade da amostra é muito importante. Já tivemos problemas com anúncios desse tipo de amostras duvidosas."

Por fim, o artigo termina questionando a procedência da amostra. Mas é importante lembrar que nesse caso estamos falando de uma cauda com penas e micro estruturas... como é que algo assim seria esculpido/fraudado? Existe algum animal moderno com cauda emplumada e ossificada ao mesmo tempo para servir como embuste?

Agora, para encerrar, vamos ver a conclusão obtida pelo tal teólogo, mas com meus comentários em colchete:

"antes de considerarmos o achado um “elo perdido” ou “fóssil transicional”, temos que fazer um verdadeiro estudo sobre a evidência encontrada [o teólogo em questão estudou bem pouco pelo visto]. Neodarwinistas tendem a pregar o evolucionismo como se fosse religião, ignorando até as leis mais óbvias da ciência [o estranho é que é exatamente isso que o Criacionismo da Terra Jovem faz, como mais uma vez se evidencia por esse artigo].

A amostra provavelmente é de uma ave extinta com cauda [a conclusão é por conta das penas, e o criacionista ou não sabe ou ignora o fato da cauda ter a mesma estrutura óssea da cauda de um dinossauro], e isso não tem nenhum segredo evolutivo ou transicional escondido. O que criacionistas podem comemorar é o fato de mais uma vez evidências científicas mostrarem que não houve a macroevolução mitológica pregada [?]. A descoberta mostra tecidos moles preservados [ambar preserva tecidos moles!], penas e insetos que não demostram evolução nem sinal de transição [e como fica as penas não se formando pelo eixo central?]."

É lamentável a conduta que podemos ver através dessa análise errada da descoberta por parte dos criacionistas. Não obstante, é capaz que haja diversos compartilhamentos dessa análise errônea nas redes sociais, uma vez que o site adventista "Criacionismo" goza de boa popularidade... E é por isso que, às pressas, este artigo do blog foi feito, para que venha servir como uma espécie de "antídoto" face às inverdades advindas deste artigo. E pela enésima vez, fica a pergunta: é correto mentir em prol de alguma ideologia??

Fontes:
http://www.bbc.com/portuguese/geral-38261093
http://dml.cmnh.org/1997Jan/msg00318.html
https://en.wikipedia.org/wiki/Longisquama/
https://pt.wikipedia.org/wiki/Fóssil#.C3.82mbar
http://phys.org/news/2012-08-prehistoric-bugs-million-years.html