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A morte na panela e os erros criacionistas

Recentemente, assisti a uma pregação do pastor Adeildo de Oliveira Silva, da igreja o qual congrego, que me chamou muito a atenção por est...

sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

A morte na panela e os erros criacionistas

Recentemente, assisti a uma pregação do pastor Adeildo de Oliveira Silva, da igreja o qual congrego, que me chamou muito a atenção por estar próxima de um tema em voga nos últimos tempos e que tem gerado muita polêmica: a maneira com o qual os cristãos estão defendendo o livro de Gênesis - em uma linguagem mais simples, a maneira com o qual os criacionistas têm agido. A pregação falava sobre Adão e Eva? Não... Sobre Dilúvio? Também não... Falava, na verdade, de uma passagem no Segundo Livro dos Reis, que acredito que não só tem ligação com o que acabei de falar, mas sim com algumas atitudes das nossas vidas...

Eu já estava com o desejo de fazer esse artigo aqui no blog faz muito tempo. Naquele dia Deus falou muito comigo e senti na obrigação de transmitir a mensagem, mas as correrias do meu dia a dia não me permitiram fazê-lo. Até que algo me despertou a atenção... dias atrás estava vendo algumas coisas a respeito do famoso químico Marcos Eberlin, um dos maiores especialistas em espectrometria de massas. Esse notório cientista é defensor do Design Inteligente, e o que ele dizia nessa área não era muito diferente do que eu já tinha ouvido do assunto... até assistir vídeos onde vi mesmo dizer, dentre outras coisas, que erosão por milhões de anos destruiria os fósseis e que os fósseis de hominídeos - como o Australopithecus, Homo erectus e Neanderthal - ou eram fraudes ou construídos com massa epóxi. Qualquer paleontólogo que ouvisse isso diria que tais informações são falsas - e realmente são. Fiquei tão pasmo de como um cientista cristão, do nivel dele, poderia ter dito isso, que decidi pôr a mão na massa e escrever esse artigo.

ENVENENANDO INCONSCIENTEMENTE

A nossa história inicial se passa em Israel no século 9 a.C, tempo em que os reis governavam nessa terra, e Deus usava profetas para falar com o povo. Dentre eles, a figura central era o profeta Eliseu, sucessor do profeta Elias. Nosso cenário está em 2 Reis 4:38-41: 


"E, voltando Eliseu a Gilgal, havia fome naquela terra, e os filhos dos profetas estavam assentados na sua presença; e disse ao seu servo: Põe a panela grande ao lume, e faze um caldo de ervas para os filhos dos profetas.
Então um deles saiu ao campo a apanhar ervas, e achou uma parra brava, e colheu dela enchendo a sua capa de colocíntidas; e veio, e as cortou na panela do caldo; porque não as conheciam.
Assim deram de comer para os homens. E sucedeu que, comendo eles daquele caldo, clamaram e disseram: Homem de Deus, há morte na panela. Não puderam comer.
Porém ele disse: Trazei farinha. E deitou-a na panela, e disse: Dai de comer ao povo. E já não havia mal nenhum na panela."

Existem muitas mensagens na internet afora sobre essa passagem, que é, deveras, interessante. Mas poucas ou talvez nenhuma na perspectiva que mostraremos. Afinal, o que uma declaração mentirosa de um cientista cristão teria a ver com essa passagem?

Vejamos... conforme o texto bíblico, o servo dos profetas tinha boa intenção: pegar comida para usar no ensopado. Ele não queria envenenar ninguém, a Bíblia é clara em dizer que o servo não sabia que aquele vegetal do qual pegava para o caldo era venenoso, a saber, um punhado de colocíntidas. Para quem não sabe, colocíntida é um fruto venenoso muito comum na região de Gilgal, onde justamente se passa a história segundo a Bíblia. Basicamente, então, o servo teria cortado a fruta e colocado seus pedaços no caldo, mas reitero, ele não queria envenenar ninguém.

Na hora em que os profetas foram provar do caldo, um ou mais deles percebeu que tinha colocíntidas na panela e gritou para Eliseu a famosa frase: "Homem de Deus! Há morte na panela". E ninguém comeu até que Deus, por meio de Eliseu, purificasse aquele alimento quando foi derramada farinha sobre o caldo.

Por que eu enfatizei tanto que o servo não sabia do que fazia? Simples: porque o servo na verdade representa a maneira com que a maioria dos criacionistas têm agido. Como assim?

DE BOAS INTENÇÕES...

A maior parte dos criacionistas que conhecemos hoje, assim como o atualmente em destaque Marcos Eberlin, são protestantes de várias denominações, especialmente adventistas. Uma vez cristãs, é de se admitir que não são pessoas más ou que querem o mal dos outros, aliás muito pelo contrário, pois a base do cristianismo é o amor ao próximo. O cientista criacionista Leonard Brand disse no livro “Presenting evolution and Creation: How? [Part 1]” o seguinte:

"Muito do material criacionista existente supõe que a evolução é apenas uma teoria sem sentido que oferece às pessoas uma forma de fugir da verdade sobre Deus. Esses criacionistas pensam que, se os evolucionistas simplesmente enxergassem as evidências óbvias, perceberiam que a Criação é verdadeira. […]"

Ou seja, a maioria dos criacionistas veem a teoria da evolução como algo sem nexo que pode afastar as pessoas de Deus. Por isso combatem essa "heresia" com unhas e dentes, como uma espécie de "cruzada santa", temendo que a Bíblia entre em descrédito. A própria estratégia do primeiro grupo de Design Inteligente, de acordo com um documento dos mesmos, refletia também esse objetivo final.

Então, que problema há em se pregar a Palavra de Deus? Nenhum... desde que seja por meios honestos. Noventa e nove por cento dos criacionistas trazem muitos argumentos errados, falhos e por vezes falsos para tentar desacreditar a teoria da evolução, tudo em nome de divulgar a Palavra de Deus. Obviamente isso é errado, pois se vamos falar da Verdade de Deus, vamos usar a verdade para argumentar. Mas a questão é: os criacionistas fazem isso conscientemente? A resposta é um surpreendente NÃO.

Mas como alguém pode mentir sem saber que está mentindo? Os motivos são dois: falta de conhecimento e ignorância (no sentido de ignorar) de argumentos que parecem contradizer sua "fé". Existem alguns criacionistas que, quando erram em alguma coisa e percebem o erro, se retratam ou repensam alguns de seus argumentos, mas o fato é que a maioria não é assim. Diante de uma argumentação que parece colidir direto com sua teologia, o criacionista ignora as evidências: desconversando, ignorando literalmente ou partindo para xingamentos ou maldições.

O bioquímico Marcos Eberlin é Criacionista da
Terra Jovem.
Minha experiência pessoal com criacionistas mostrou-se exatamente dessa forma. Apenas alguns poucos consigo manter um diálogo amigável - um deles, Dan de Barna, está lançando um livro intitulado "La Manzana de Adan", que traz uma perspectiva diferente, mas ainda interessante, da antropologia evolutiva (acesse o E-book aqui), e o outro que - pelo menos no início - foi bem receptivo comigo, por incrível que pareça, foi o próprio Marcos Eberlin, mas há outros que já me chamaram de herege, mesmo sabendo que acredito em Deus e na Bíblia! Tem um criacionista, que não quero citar o nome (embora seja bem conhecido nas redes sociais), que claramente me ofendeu e depois distorceu minhas próprias palavras para dizer que estava sendo "perseguido".

Mas... pessoas como ele são más? Não. São cristãos que acredita em Deus e na Bíblia. Uma pessoa boa de se dialogar (desde que o assunto não seja criação vs evolução) e de bom coração. Então, por que criacionistas, como o Marcos Eberlin por exemplo, usam argumentos errados? Porque por vezes os tais não sabem quase nada de paleontologia e biologia (a área de estudo do Eberlin é apenas química) e preferem continuar sem saber para não admitir que tem algo errado em seu modelo teológico. Simples assim.

ALGUNS EXEMPLOS

No nosso blog temos uma lista dos mais recorrentes erros criacionistas (acesse-a clicando aqui). Mas abaixo destacamos alguns desses erros:

Não existem elos perdidos. Quase todos os criacionistas, senão todos, usam esse argumento. O termo "elo perdido" nem é usado mais, porque a evolução não acontece de forma sequencial, sendo o termo correto "fósseis intermediários ou transicionais". Mas dizer que não existem fósseis transicionais é simplesmente falso. Milhares de espécies consideradas transicionais estão perfeitamente catalogadas e os criacionistas sequer conhecem 10 por cento delas; daí o erro na argumentação.


Se nós evoluímos do macaco, os macacos não deveriam existir hoje. Essa argumentação já foi usada pelo pastor Silas Malafaia e ignora o fato de que a teoria da evolução NÃO alega que o homem evoluiu do macaco, mas que ambos evoluíram de um ancestral comum. Muitos cientistas acreditam que um pequeno grupo de criaturas se afastou do grupo principal e tornou-se isolado, o que os levou a formar uma nova espécie. Os fatores para esse acontecimento, porém, é o que realmente varia dentro do âmbito da evolução.

Não existe aumento de informação genética. Essa argumentação é muito usada pelos criacionista Nahor Neves e Sodré Gonçalves e é uma meia-verdade. Há, realmente, muitos pontos a serem esclarecidos sobre como a informação genética se renovara no processo evolutivo, porém, existem sim mecanismos que aumentam informação, e o principal deles é a recombinação genética. Acontece que o DNA é formado por diversas combinações de genes. Assim como é comprovado pela Teoria da computação, a alteração de apenas um gene pode sim fazer com que haja uma recombinação genética, daí os nucleotídeos gerados por novas combinações serão diferentes, e a informação poderá sair maior do que era anteriormente. Em outras palavras, recombinação genética pode gerar sim aumento de informação.

Todos os crânios fósseis da evolução humana ou são fraudes ou foram feitos de massa epóxi. Argumentação advinda de Marcos Eberlin, e posso responder isso com minha experiência pessoal: Conheço pesquisadores da área que estudam os fósseis encontrados, já vi diversas réplicas dos fósseis copiadas de moldes originais, li bastante coisa a respeito e posso dizer que, tirando a fraude do Homem de Piltdown, do dente do Homem de Nebraska e até de certo modo o Homo floresiensis, o resto não é fraudado nem feito de epóxi: os fósseis são tão reais quanto o fóssil de trilobita que tenho na estante.
Adauto Lourenço defende o
"Argumento da Termodinâmica"

A erosão tem o poder de destruir o registro fóssil até 3 vezes. Outra de Eberlin, que é uma meia verdade. A erosão consegue sim e estragou diversos pontos do registro fóssil, quase que noventa e nove por cento pra falar a verdade. O que nós encontramos são exceções a regra - e ainda assim a maioria ou é fragmentada ou deformou-se por erosão. Ou seja, conhecemos apenas um pedacinho da fauna e flora de milhões de anos atrás, mas o suficiente para aprendermos alguma coisa. Ou seja, esse argumento não pode ser usado em favor de uma Terra Jovem, que supõe que tanto a formação de fósseis como o registro do mesmo é abundante, e não é.

A 2ª lei da termodinâmica começou na Queda do Homem e invalida a teoria da evolução. Argumento principalmente usado por Adauto Lourenço e Silas Malafaia. A lei afirma que a entropia aumenta com o tempo. Entretanto, a entropia nem sempre é ruim. Digestão e fricção são formas de entropia. Se a Segunta Lei não estivesse em efeito na criação, Adão e Eva teriam resvalado ao caminhar sobre o Jardim do Éden. Respiração também é uma forma de entropia, até mesmo o desenvolvimento de um embrião em um adulto gera entropia, mostrando que a Segunda Lei da Termodinâmica não é sempre uma maldição... Da mesma forma, entropia não é a mesma coisa que, literalmente, desordem, e não tem nada a ver com evolução biológica.



Esses são apenas alguns poucos exemplos dos erros que os criacionistas cometem. Para uma exemplificação mais sólida acesse a nossa página sobre "mentiras por trás do criacionismo da terra jovem" ou esse artigo.


OS FINS JUSTIFICAM OS MEIOS?

Então, de maneira análoga ao texto de 2 Reis, criacionistas têm colhido muitas colocíntidas sem saber que são venenosas e distribuído para as pessoas ao seu redor. Eles não tem a intenção de "envenenar" ninguém. O servo da passagem bíblica apenas queria ver os filhos dos profetas felizes e de barriga cheia, saciados com um ensopado suculento. Os criacionistas querem ver as pessoas professando que Deus é o Criador, que a Verdade está em Sua Palavra e que Cristo Salva. Um queria saciamento físico para os seus colegas, os outros nos dias de hoje querem saciamento espiritual para seus irmãos em Cristo e pessoas ao redor.

Entretanto, como diz um velho ditado: "de boas intenções o inferno está cheio". Não interessa se a intenção é a mais pura possível, se você usa de meios prejudiciais para concretizar a intenção, as consequências podem ser devastadoras. Leonard Brand - que é criacionista - admite e demonstra em poucas palavras o que a "colocíntida criacionista" do nosso texto pode fazer:

"Ainda que bem-intencionadas, algumas pessoas usam essa abordagem com os jovens cristãos, muitos dos quais frequentam universidades públicas onde cientistas lhes apresentam um gigantesco conjunto de dados que destrói suas crenças criacionistas. Então, esses jovens descobrem que a evolução não é uma teoria estúpida, mas pode ser apoiada por uma esmagadora variedade de evidências. Nesse processo, muitos deles acabam perdendo a fé."

Agora, imagine uma pessoa que não é cristã ao comparar a argumentação criacionista com os dados contrários ao criacionismo... Dificilmente essa pessoa irá se converter a Cristo, justamente devido ao mal testemunho que acabam dando, pois mentira não deixa de ser pecado. Ou seja, o criacionismo, como têm sido pregado, tende mais a afastar as pessoas de Deus do que as atrair.

Isso, infelizmente, faz muito sentido, pois como está em Tiago 3:11 e 12, não podem jorrar dois tipos de água de uma mesma fonte, nem uma figueira pode produzir azeitonas. Proclamar as boas novas de Deus (a verdade) com argumentos errados (mentira, pecado) vai gerar consequências ruins. Um ensopado de colocíntidas pode parecer saboroso, mas quando provado pode ser mortal.

COLOCANDO FARINHA

Segundo o texto bíblico, o profeta Eliseu, ao ser avisado que "havia morte na panela", pediu para que colocassem farinha no caldo venenoso. Certamente, Deus lho impeliu a fazer isso. Então, quando colocaram a farinha na panela, seguindo a ordem do homem de Deus, um milagre aconteceu: o caldo, que antes era venenoso e mortal, tornou-se comestível! Não há propriedades físicas na farinha que eliminem o veneno das colocíntidas, sendo assim, o que aconteceu foi realmente um milagre da parte de Deus, por intermédio do profeta Eliseu. Um milagre acontece em momentos extremos e aquele era um momento onde apenas a intervenção divina seria a solução.



Colocando para os dias atuais o texto, e levando em conta a analogia da atitude do servo com a atitude da maior parte dos criacionistas, apenas a verdade de Deus é que pode ser o antídoto para resolver o problema do mal da panela, e da mesma forma, do mal que o criacionismo acaba por trazer. Isso porque, na verdade, o criacionismo não salva ninguém. Milhões de anos ou 6 mil anos não salva ninguém. Tipos básicos ou fósseis transicionais também não. Dilúvio de Noé ou Seleção Natural, muito menos. Quem salva é somente Jesus Cristo, e o resto deve ser apenas detalhes. Jesus é o mais importante. Da farinha é que vem o pão, e a Bíblia diz que Cristo é o pão da vida.

Muitos grupos criacionistas - principalmente os de Terra Jovem - tratam suas ideologias como uma religião, como se você só pudesse ser salvo se professar o criacionismo. O instituto Answer in Genesis e a Igreja Adventista do Sétimo Dia agem exatamente dessa maneira. E, como vimos, muitos posicionamentos criacionistas são "colocíntidas disfarçadas", e dependendo da situação, a pessoa que comer desse prato pode até perder a fé em Deus. Por isso, quando vamos pregar as boas novas da Palavra de Deus, não devemos nos ater a pregações criacionistas ou algo do tipo, mas sim a pregação do Evangelho. É isso que vai garantir a salvação de uma pessoa: o sacrifício de Jesus na cruz por nós. A mensagem genuina do evangelho de Cristo não tem "colocíntidas", é "farinha pura", e ela consegue trazer de volta a fé até mesmo aquele que se decepcionou ante os erros do criacionismo.

Isso não quer dizer que o estudo das Origens é irrelevante. Ele tem sua importância, mas não para pregar a mensagem bíblica, cujo centro é Jesus. Muitos têm tratado a Bíblia como um livro de ciência, mas ela jamais teve essa intenção. Entretanto, sempre que se estuda um tema como criacionismo e evolucionismo, é importante analisarmos o tema com a mente aberta. Procurar estudar bastante, analisando cuidadosamente os fatos e dados,ter uma vida de oração e meditação na Palavra de Deus é essencial para que não venhamos cair em mais e mais erros criacionistas. O foco do cristão deve ser a mensagem do Evangelho, sempre. Essa é a "farinha espiritual de Eliseu".

CONCLUSÃO

E então, será que você, caro leitor, também não têm agido como o servo que trouxe sem intenção a morte na panela? Será que, na intenção de pregar que Deus é o Criador, você têm oferecido colocíntidas para as pessoas sem perceber? E às vezes nem é no âmbito criacionista, pois ações erradas em prol da pregação do evangelho podem acontecer de monte, e sempre tendem a dar resultados desastrosos. Devemos tomar muito cuidado com a mensagem que trazemos de Deus e do testemunho que damos da mesma. Mentir em nome do criacionismo ou do evolucionismo, por exemplo, não é uma boa ideia...

William Lane Craig é um intelectual
da igreja Batista e Criacionista Progressivo
Muitos criacionistas agem dessa forma, ignorando argumentos em favor do processo evolutivo e de uma Terra bem mais antiga que meros 6 mil anos, e o motivo disso é quase sempre porque isso "parece" entrar em conflito com a Bíblia e, caso o criacionista aceite tais evidências, pode perder a sua fé. Daí, preferem lançar mão, sem saber, de "colocíntidas". Mas não devemos temer isso. A nossa fé não deve ser firmada em "pressupostos científicos", pois "a fé é o firme fundamento das coisas que não se veem, mas se esperam" (Hebreus 11:1). Você pode aceitar uma terra antiga e a teoria da evolução sem problemas; reafirmando sua fé em Deus, em Cristo e na Sua Palavra independente de quaisquer pressupostos, você tem a garantia da salvação. Até porque o criacionismo da terra jovem é uma ideologia dentre muitas. A exemplo de outras, temos a teoria da lacuna (Dep. Marco Feliciano), a teoria dia-era (Hugh Ross) o criacionismo progressivo (William Lane Craig, Fred Heeren e eu mesmo) e também o próprio evolucionismo teísta (Francis Collins e Alister McGrath). Todas essas pessoas, que defendem essas posições diferentes do criacionismo da Terra Jovem, se servirem a Deus de todo coração, terão a mesma porção no céu que qualquer criacionista de qualquer segmento religioso.

No final das contas, o que Deus quer é um coração quebrantado que o adore em Espírito e em verdade e que venhamos saciar-nos da Sua Palavra simples e pura, que é boa, perfeita e agradável. Pra Deus, pouco importa sua posição científica.

Que nós (nós porque também me incluo como receptor dessa mensagem) possamos orar e vigiar sempre, procurar buscar sempre conhecimento correto acerca das coisas com mente aberta, e procurar oferecer às pessoas não colocíntidas venenosas, mas sim o Pão da Vida de Cristo. A Ele toda a glória, toda honra, e todo louvor! Amém!

BIBLIOGRAFIA

Leonard Brand e Cindy Tutsch, “Presenting evolution and Creation: How? [Part 1]”, Ministry, fevereiro de 2005, p. 21, 30

Leonard Brand, Faith, Reason, and Earth History: A Paradigm of Earth and Biological Origins by Intelligent Design, 2ª edição

http://www.ufrgs.br/paleodigital/Registro_fossil.html

http://sombradoonipotente.blogspot.com.br/2013/02/eliseu-e-morte-na-panela.html

http://www.esbocosermao.com/2013/10/tirando-morte-da-panela.html

https://missaoposmoderna.wordpress.com/2013/03/17/criacionismo-ainda-viavel/

http://www.reasonablefaith.org/why-is-evolution-so-widely-believed

https://www.youtube.com/watch?v=1od8N3tEg0M

http://www.universocriacionista.com.br/

https://forgottenthoughtsinapensieve.wordpress.com/2014/10/16/marcos-eberlin-design-inteligente-vs-evolucao/

https://www.youtube.com/watch?v=H5pP-s_DTpk&t=1h9m44s

http://meteoropole.com.br/2013/02/malafaia-e-a-termodinamica-argumento-mais-velho-do-que-eu-parte-1/

http://www.dicionarioinformal.com.br/coloc%C3%ADntidas/

quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

Por trás do Criacionismo da Terra Jovem: Ataque aos crocodilomorfos

Esta é uma versão melhorada e atualizada do primeiro artigo da série "Por trás do Criacionismo da Terra Jovem".  Minha visita recente ao Museu de Monte Alto - lugar onde acharam os fósseis do Montealtosuchus (o animal-alvo do texto) - me motivou a reescrever esse artigo de maneira mais detalhada.

A Bíblia diz claramente que o diabo é o pai da mentira. Desde o princípio, a humanidade têm sua história marcada por muitas mentiras, como a Bíblia nos revela... Como não mencionar a mentira que a serpente contou a Eva? Ou o momento em que Abraão mentiu ao Faraó dizendo que Sara não era sua mulher? Ou quando Jacó se disfarçou de seu irmão mais velho para alcançar a bênção de primogênito? Ou quando Pedro negou a Cristo três vezes? Esse pecado é muito corriqueiro, infelizmente.

A série "O que há por trás do Criacionismo da Terra Jovem" se propõe a desmascarar todas as mentiras contadas por criacionistas nas mídias sociais e meios de comunicação, que agem com o propósito de demonizar a teoria da evolução em prol do que eles acreditam que a Bíblia diz. Não é errado apresentar argumentos favoráveis a Palavra de Deus (muitíssimo pelo contrário, isso deve ser incentivado), entretanto devemos usar os argumentos corretos, e não mentir para provar a Bíblia. E muitos criacionistas têm feito isso. E é algo prejudicial a fé cristã, pois além de dar um péssimo exemplo de cristianismo, tais condutas mais afastam as pessoas de Deus do que as atrai. Como diz o criacionista e PhD em biologia evolutiva Leonard Brand, "Ainda que bem-intencionadas, algumas pessoas usam essa abordagem [as "mentiras do criacionismo"] com os jovens cristãos, muitos dos quais frequentam universidades públicas onde cientistas lhes apresentam um gigantesco conjunto de dados que destrói suas crenças criacionistas. Então, esses jovens descobrem que a evolução não é uma teoria estúpida, mas pode ser apoiada por uma esmagadora variedade de evidências. Nesse processo, muitos deles acabam perdendo a fé."

CONTRADIÇÕES A VISTA!

O artigo que iremos analisar - e desmascarar - a partir de agora foi publicado pelo criacionista Guilherme Born em 2009 pelo site "descontradizendo contradições" e traz uma contrargumentação aparentemente muito bem feita em torno de um suposto "elo perdido": o Montealtosuchus arrudacamposi (transicional entre crocodilos marinhos e crocodilotársios - ou popularmente falando, "crocodilos terrestres"); com o propósito de mostrar que o tal não foi nenhum elo perdido e que não teria vivido há milhões de anos, mas sim até recentemente, nos tempos diluvianos. Na verdade o artigo mostra o que acontece quando um simples técnico de informática resolve falar de paleontologia, sem conhecer nada do assunto... Nada contra os técnicos de informática, deixo claro.

Para entender a postagem, sugiro que leia esse artigo por completo: http://www.dc.golgota.org/criacao/+_um_elo_que_foi_perdido.html

A seguir, esse mesmo artigo será "destrinchado" e por meio de fatos e imagens também colocaremos a tona a realidade que se esconde nesse artigo. Parece que o artigo é sábio e revelador... Mas...


QUEM É O QUÊ?

Inicialmente, é mostrada a matéria original do anúncio da descoberta do fóssil, como sendo um transicional entre tipos primitivos de crocodilos e tipos modernos. Na realidade, o termo foi mal empregado na matéria de divulgação - o que não surpreende pois geralmente a mídia tende a exagerar esta ou aquela informação. O Montealtosuchus foi um intermediário entre "crocodilos terrestres", chamados de crocodilotarsos, e aligatores sulamericanos (como o Jacaretinga e o Jacaré-do-papo-amarelo), uma vez que em outras regiões, dessa época - 80 milhões de anos segundo o texto - já existiam no planeta crocodilos como o Sarcosuchus imperator (iremos falar dele mais adiante). Portanto, essa má explicação do artigo já renderia motivo pra alguma discussão, mas o Guilherme vai muito mais além em suas acusações disfarçadas de verdades.

Vamos começar a analisar o texto:

"Em primeiro lugar, o nome Montealtosuchus arrudacamposi é um nome secundário. Seu real nome é Baurusuchus salgadoensis. "

A partir daí já começam os erros. Montealtosuchus e Baurusuchus são animais totalmente diferentes, tanto em aspecto, quando em tamanho, ou seja, Baurusuchus não é o nome secundário do Montealtosuchus. Eles são apenas parentes próximos, nada além disso. Duvida? Faça a comparação por você mesmo, pelas fotos tiradas no Museu de Paleontologia de Monte Alto - SP:

Crânio de Montealtosuchus arrudacamposi

Crânio de Baurusuchus salgadoensis


O mesmo animal??

"Vou chama-lo de "Elinho""

Tenho que admitir que o Guilherme, apesar de tudo, é bem humorado e sarcástico. No texto inteiro ele chama o elo que quer atacar - que não sei se é o Montealtosuchus ou o Baurusuchus - de "elinho". Para melhor compreensão das mentiras expostas no texto, e por motivos de bom humor, usarei também o nome "elinho"...

"Os cientistas dizem que viveu 80 milhões de anos, outros dizem que 90 milhoes. Bem... 10 milhões é uma diferença pequena né? Claro que não. É muito tempo!! Os cientistas adoram brincar de milhões em milhões, como se fossem meses. O que na realidade indica, é que eles não sabem qual é a idade correta."

Outro erro do Guilherme. A divergência nas idades é simples de explicar: se deve ao motivo do Guilherme considerar o Montealtosuchus e o Baurusuchus seriam o mesmo animal, uma vez que um teria vivido há 80 milhões de anos e o segundo há 90 milhões de anos. Portanto, a divergência aí vai ser óbvia...

"Vejam que incrível!!! 11 esqueletinhos, que tinham pouco mais de 1 metro de comprimento, respondem como era o clima, vegetação e descreve as "catástrofes" ocorridas no cretáceo... Nossa!!!
Esse tipo de sensaciolanlismo chega a ser engraçado. O pior é que todo mundo acredita."

Por meio de estudos na rocha em que a criatura foi achada, fósseis-guias, tafonomia, etc, consegue-se determinar muitas coisas. Esses 11 esqueletos apresentam sinais de desgaste, situavam-se em pontos específicos... Todos esses dados são importantes para que se aprenda sobre o ambiente habitado por esses animais. Isso é o que um paleontólogo faz. Quer dizer, o Guilherme chama de "sensacionalista" algo que ele simplesmente desconhece, e muito.

"Detalhe, esses outros "crocodilos morfos" são chamados assim porque tem o crânio parecido com os de um crocodilo atual. Porém existem uns morfos muito parecidos com os atuais, em tamanho maior. Chamamos a época dos fósseis grandes de Gigantismo fóssil. A reportagem nos quer fazer pensar que existem outros crocodilos "intermediários", o que não existe. O que existe são animais com o crânio semelhante ao de um crocodilo atual. Isso não o torna um parente de crocodilo. Mais a frente veremos um deles."

O Guilherme não sabe o que é crocodilomorfo e coloca para o leitor uma informação extremamente mentirosa. Crocodilomorpha é um grupo que reúne os animais conhecidos vulgarmente como "crocodilos". Por isso, quando ele fala de "morfos" não se refere ao sentido real que o texto trata. Ao contrário do que o Guilherme fala, existem também vários intermediários, de várias fases evolutivas do crocodilo documentados no registro fóssil, como por exemplo o Archosaurus e o Protosuchus. Pelo visto o Guilherme - que ingenuamente acha que "crocodilo morfo" se refere a apenas um crânio igual ao do crocodilo atual - jamais ouviu falar nesses intermediários.

"media cerca de três metros de comprimento e pesava aproximadamente 400 kg - Os fósseis encontrados tinham um pouco acima de 1 metro de comprimento, mas obviamente, para sustentar o "elo", diz-se que tinha 3 ou mais, para mostrar que realmente eram parentes dos crocodilos atuais."

O Bauruschus media três metros e isso é fato. O que acontece é que novamente o Guilherme confunde Baurusuchus com Montealtosuchus, entretanto, alguns fósseis do Montealtosuchus que correspondem a peças isoladas apontam que o animal chegava na faixa dos dois metros de comprimento. Além disso, tamanho nada tem a ver com a questão ancestral-descendente, pois indivíduos de um mesmo gênero animal podem atingir dimensões diferentes. Abaixo, uma foto de um esqueleto reconstituído do Baurusuchus.



Vocês por acaso conhecem esta história? É a versão amenizada e evolucionista do Dilúvio Bíblico. Estranho que até os mamíferos se enterravam pelo jeito, a procura de umidade. Teoria ridícula.

Na verdade não é nada ridícula, pois essa explicação não foi uma mera especulação, mas veio do estudo da Tafonomia, ramo da paleontologia que estuda como os animais fósseis morreram, sem falar que a explicação da umidade é referente só ao crocodilomorfo do texto (repare que a publicação em vermelho, no artigo, fala: "essas espécies faziam buracos e se enterravam").

O animal tem caraterísticas intermediárias entre duas fases da evolução dos crocodilos. - Duas fases?? E quais são? Bem... então eles terão que explicar que fase é a do crocodilo exatamente igual ao atual, encontrado no Niger, com idade de 110 milhões de anos. Veremos logo abaixo.

Sim, duas fases e, se o Guilherme resolvesse fazer um estudo sério ao invés de tratar o artigo referido como "jogo de sete erros", saberia quais fases são essas. E já mencionamos as fases: a dos Crocodilotársios (grupo do Baurusuchus e do Montealtosuchus) e a dos Aligatores. O crocodilo gigante encontrado no Níger que ele menciona é o Sarcosuchus imperator, um parente próximo do Gavial, que não está relacionado evolutivamente com nenhum dos aligatores.

"As órbitas dos olhos deles têm posição lateral, como um animal terrestre, como um cavalo, uma vaca", afirma o cientista. "Este é um grande indicativo de que ele passava grande parte do tempo em terra. Já os olhos dos crocodilos atuais ficam em cima do crânio para se manter dentro da água." Sinceramente, este argumento foi ridículo. Então o que o tal de Vasconcellos nos diz dos mamíferos, que são terrestres e tem olhos frontais? Ele usou dois mamíferos com olhos laterias. Esta explicação é típica de um cientista sem experiência no seu trabalho, querendo fazer sensacionalismo para se auto-promover.
O olho lateral nos animais nada tem a ver com ser "terrestre" ou não. A diferenciação da vista lateral com a frontal é relacionada ao animal predador ou herbívoro. Nos animais que temos hoje, os predadores tem olhos frontais e os herbívoros, olhos laterais. Porém peixes também tem olhos laterais e isso não implica que o mesmo seja terrestre. A baleia Orca é predadora, mas tem olhos laterais. Não há uma regra, porém predomina-se esta: Olhos frontais - predador / olhos laterais - herbívoro.

O nosso amigo criacionista alega que a afirmação do "tal de Vasconcellos" é ridícula, e chega a atacar a moral do cientista, dizendo que o mesmo é inexperiente. Na verdade, o inexperiente nessa história é o Guilherme Born, pois ele não percebe que o autor da publicação do Montealtosuchus na verdade não quis dizer que toda vez que temos visão lateral é indicativo de animal terrestre. Ele apenas quis dizer que, uma vez que crocodilos possuem os olhos no alto da cabeça para se manter dentro da água, o Montealtosuchus não deveria ser aquático, já que possuía os olhos numa posição mais próxima a dos olhos de um mamífero terrestre do que de um jacaré. Ou seja, o Guilherme parece ser também ruim de interpretação de texto...

Essa é a análise inicial das mentiras ditas pelo criacionista Guilherme Born. Se parássemos por aqui já seria suficiente para dizer que o artigo tem bastantes erros. No entanto, esse criacionista consegue se superar em termos de farsa e desconhecimento, quando resolve por conta própria analisar o "elinho", com um conhecimento de paleontologia muitíssimo abaixo do necessário...

RAPTORES E CROCODILOS NO LIQUIDIFICADOR

Fazer uma interpretação de um fóssil pouco conhecido não é algo nada simples e qualquer descuido na análise pode nos levar a conclusões equivocadas (por isso existe revisão por pares de uma descoberta, por exemplo). Entretanto, fazer análise de fósseis usando apenas fotos pode em noventa por cento dos casos a nos levar a erros crassos, principalmente se a pessoa que está fazendo a análise tem um conhecimento pífio de paleontologia e é um mero técnico de informática... É o caso do Guilherme Born e o caso de uma das argumentações mais desonestas e absurdas decorrente dele.

Vamos acompanhar passo a passo da análise que ele fez. O objetivo? Apenas mostrar que os cientistas estão errados em dizer que o "elinho" é um tipo de crocodilo...

"Vemos que uma pequena análise já pôem em dúvida se este animal é um Elo ou não. Vamos analisar algumas imagens, comparando-as com os raptor e crocodilos atuais."

Inicialmente ele usou algumas ilustrações do Baurusuchus - e não do Montealtosuchus - para fazer a comparação com ilustrações de "Raptors" como ele mesmo fala. E detalhe, ilustrações que para o leigo lembrem um pouco a imagem que ele colocou. Abaixo, uma das imagens utilizadas do Baurusuchus e a imagem de Raptor usada por ele para a tal comparação:



Em seguida, Guilherme Born diz:

"Raptors, estrelas do filme Jurassic Park. Tinham também pernas longas, mas não andavam necessariamente com as 4 patas no chão. Tanto os raptors como o Elinho tinham tamanhos parecidos e suas patas seguiam uma proporção semelhante. Se o nosso elo vivia em clima seco e árido, como dizem os cientistas, então este também deveria andar apenas com as patas traseiras, evitando queimar suas pequenas patas no chão quente.
Reparem a posição da coluna vertebral do nosso Elo. as patas pequenas fazem com que o pescoço e a cabeça sejam forçados, para permitir a visão. Seria incoveniente que este "crocodilo" andasse com 4 patas.
As pernas traseiras são perfeitamente desenvolvidas para um andar bípede e não quadrúpede. Este "crocodilo" andava igual aos Raptors."

Para aparentar uma certa "honestidade" na pesquisa, o Guilherme também fez algumas comparações entre o crânio do Baurusuchus, do crocodilo Sarcosuchus e de um crânio que ele diz ser de raptor. Olhe as fotos abaixo:




Agora, vamos expor a fraude enorme que existe nisso tudo...

Primeiramente, como eu disse, ele usou fotos cuidadosamente selecionadas. Ele pegou algumas ilustrações do Baurusuchus que ficaram meio parecidas com a anatomia de um dinossauro. Em seguida, para convencer o leitor indiretamente, usou uma imagem totalmente errada e desatualizada de "raptors".

Abaixo, faço uma comparação ao mesmo estilo das comparações do Guilherme Born, entretanto, utilizando ilustrações cientificamente corretas dos crocodilomorfos do texto e de Dromeossaurídeos, o termo mais correto para "raptors"...

Baurusuchus




Montealtosuchus



E... "Raptors"!








Algumas das ilustrações acima mostram os "raptors" com penas, e isso não é uma mera especulação: alguns fósseis encontrados na China sugerem que os Dromeossaurídeos possuíssem penas muito parecida com a dos pássaros. Isso por si só já mostra que crocodilomorfos e dromeossaurídeos são criaturas muito distantes. Mesmo uma ilustração "correta" dos tais sem penas leva a indicar que são animais bastante diferentes.

Mas o que dizer dos crânios? A comparação que ele fez não está convincente? Na realidade ele usou de imagens cuidadosamente selecionadas para dar a falsa impressão de que o "elinho" é um raptor. Primeiramente, ele pegou uma imagem de pouca nitidez do crânio do Elinho, depois colocou para comparar com o crânio do crocodilo gigante Sarcossuco, que de fato não é um parente próximo deles, como expliquei lá atrás, e, por fim, pegou uma foto de uma réplica - mal feita - de um crânio de Tiranossauro Rex! Mas por quê ele teria feito isso??

Simples: porque os crânios reais dos animais na verdade NÃO SE PARECEM em quase nada! Quer ver?

Façamos a mesma comparação entre crânios. primeiro, os fósseis dos crocodilomorfos:











E os fósseis reais de "raptors"!



Como podemos ver, caso o Guilherme apresentasse as fotos acima, aí sim ele estaria sendo honesto, porém, qualquer um consegue aí ver a diferença nítida entre os dois animais e assim a teoria dele entraria em descrédito apenas com um olhar simples nas fotos acima. Claro, alguma pouca semelhança existe - mas não a ponto de dizer que são parentes próximos. Isso se deve ao fato dos dinossauros serem aparentados com os crocodilos. Apenas isso.

Por isso, podemos dizer que o Guilherme tentou descaracterizar o "elinho" jogando ele e os Dromeossaurídeos num "liquidificador imaginário...", que consegue atrair muito bem o leigo, mas não uma pessoa que sabe da mentira dessa afirmação. Pior: a pessoa que contou essa mentira ainda se diz cristã! Onde é que ser enganador e mentiroso é atributo de um verdadeiro cristão?

PALEONTOLOGIA: NOTA ZERO

Depois de usar um "liquidificador imaginário", Guilherme Born resolve mostrar todo seu conhecimento de estudo paleontológico ao analisar as escavações.  Vamos ver o que ele diz? Abaixo, um trecho do artigo com as fotos incluídas:

Os descobridores destes fósseis divulgaram as fotos das escavações.
Um tanto estranho é a profundidade onde estes se encontravam. Geralmente, fósseis com tal idade, são encontrados em camadas mais profundas. Porém este é extremamente raso, com cerca de 30 cm a 1 metro de profundidade apenas.


Vejam, na parte de baixo, o fóssil sendo cuidadosamente desenterrado, e a vegetação atrás. Como pôde um fóssil se conservar tão bem, numa profundidade tão pequena, durante 80 a 90 milhões de anos?


Agora que vimos toda a linha de raciocínio, podemos avaliar o que nosso amigo escreveu no artigo sobre o "elinho". Como coordenador na Grande São Paulo do Fossilis Associação Científica e Cultural, a minha nota, de zero a dez, é zero.

E não precisa ser nenhum intelectual em paleontologia para perceber onde o camarada errou. Isso porque o Guilherme não sabe que o terreno onde foi encontrado o animal é que data de 90 milhões de anos, ou seja, é um local que sofreu poucas mudanças de 90 milhões de anos para cá, um verdadeiro sítio paleontológico. E de fato, ele fica num nível inferior a um terreno normal. Em minha visita a Monte Alto, pude constatar isso muito bem, pois o sítio paleontológico de lá - que fica atrás do museu - realmente fica num nível bem mais baixo em relação a própria cidade de Monte Alto. Daí fica entendido o porquê do esqueleto estar enterrado num lugar tão "raso" e rodeado por vegetação.

E detalhe: as fotos são do Baurusuchus, e não do Montealtosuchus...

TAMANHO EXAGERADO?

Em seguida, o Guilherme resolve abordar dois pontos das descobertas: tamanho do fóssil e carapaça. Nos dois casos, o Guilherme afirma que os cientistas usaram a imaginação para suas afirmações. Vejamos o que ele diz sobre o tamanho do animal em questão:

Os descobridores e os cientistas evolucionistas que analisaram o fóssil, através de seus estudos [sic], evidenciaram [sic] que nosso elinho chegava de 3 a 4 metros de comprimento.
Como eles chegaram a esta conclusão?
Não se sabe. A única coisa que sabemos é que os ossos encontrados não passavam de pouco mais de 1 metro. Ou seja, com fósseis que, possivelmente eram adultos, tais cientistas, sem explicar satisfatóriamente como chegaram a tal conclusão, anunciam na mídia tal informação.

De novo, o Guilherme comete o erro de confundir tamanhos. Vou apenas copiar e colar a afirmação que fiz lá atrás:

Bauruschus media três metros e isso é fato. O que acontece é que novamente o Guilherme confunde Baurusuchus com Montealtosuchus, entretanto, alguns fósseis do Montealtosuchus que correspondem a peças isoladas apontam que o animal chegava na faixa dos dois metros de comprimento. Além disso, tamanho nada tem a ver com a questão ancestral-descendente, pois indivíduos de um mesmo gênero animal podem atingir dimensões diferentes.

O mais engraçado é que pela foto abaixo, do próprio artigo, dá pra ver claramente que o animal realmente tinha essa medida, e a legenda é bem clara: BAURSUCHUS SALGADOENSIS...



Sendo assim, os "estudos" indicam que nosso elinho tinha um grande tamanho. Claro, jogaram no limite de 4 metros, que é o máximo dos crocodilos atuais. Porém, onde estão os ossos do nosso elinho neste tamanho? hmmm... (grifo nosso)

Resposta: estão hoje no Museu de Paleontologia de Monte Alto - SP. Olha a foto que tirei do pé dele (se não me enganosó o pé dele sozinho era um pouco maior que minha mão):



NÃO FOI ACHADO... SERÁ?

Mas até aí o erro é desculpavel, pois foi oriundo da confusão com gêneros diferentes de crocodilomorfos. Mas o erro que veremos a seguir não tem desculpa: ou o autor não estudou direito ou está agindo desonestamente no presente artigo. Ele resolve falar sobre a reconstrução em vida do "elinho", e comete um erro seríssimo...

Os cientistas, chegando (não sei como) a conclusão de que se trata de um acestral "Elo Perdido" dos crocodilos, recriaram a aparencia externa dele. (...) Reparem suas costas e o restante de seu corpo. A representação ilustra um intermediário entre os dinos, tendo seu corpo coberto com o mesmo tipo de pele dos dinos, e os crocodilos, com a sua couraça (parte das costas) idêntica a de crocodilos e jacarés. Ora, nos fósseis não foram encontradas partes da pele ou couraça que permitisse que estes cientistas recriassem um modelo como este, uma mistura de dino com crocodilo. Ou seja, como eles chegaram a conclusão honesta de que o couro deste animal era como acima? Cabe lembrar que o detalhe que lembra o couro de crocodilo pertence a pele e não é formado por ossos.

Observe a parte que eu grifei acima. Bom, o Guilherme diz que não foi encontrada parte da pele ou couraça desse bicho, certo? Ora, se isso é verdade, então o que é isto que eu tirei foto nos fósseis do Montealtosuchus no Museu de Paleontologia de Monte Alto? Veja:



Isso mesmo, são fragmentos fossilizados da carapaça do Montealtosuchus! E não é uma montagem, observe no canto inferior esquerdo da foto o "céu da boca" do crânio do Montealtosuchus de cabeça para baixo. Abaixo, outra foto, mas dessa vez do crânio ORIGINAL encontrado de cabeça para baixo, com os fragmentos da carapaça logo acima:



É muito comum os osso se misturarem e se fragmentarem desse jeito com a erosão. A erosão das rochas consegue deformar bastante um fóssil. Por isso mesmo, foi feito um trabalho acadêmico onde construiu-se uma réplica dos fósseis de Montealtosuchus na posição exata onde deveriam estar. Veja o resultado e preste atenção no dorso do bicho:




Ou seja, não tem como não dizer que o Guilherme mentiu. Foram encontrados sim fragmentos da carapaça do Montealtosuchus e qualquer pessoa pode ir lá conferir no museu. O motivo da fossilização é porque, ao contrário do que o Guilherme diz, carapaça de certos tipos de crocodilo pode sim se fossilizar, pois são feitas de queratina, da mesma forma que uma carapaça de tartaruga. Abaixo, outros três exemplos de carapaça fossilizada:
Fóssil de Protosuchus com o couro do pescoço fossilizado
Fóssil de Armadilosuchus (da mesma família do "elinho") com a carapaça quase toda preservada

fragmentos de carapaça de tartaruga que tirei foto em Monte Alto
Ou seja, as reconstruções do Montealtosuchus em vida são feitas do animal com couro de crocodilo não por especulação, mas sim porque temos evidência disso. O Guilherme, no caso, criticou a seguinte foto e ainda colocou um comentário sarcástico nela: "que cara de cachorro"!



O engraçado é que eu vi pessoalmente a réplica da foto acima. A reconstrução é muito bem feita e não tem cara de cachorro... veja abaixo algumas fotos que eu tirei, num ângulo melhor:




A reconstrução acima estava ao lado dos fósseis no museu. Isso é ótimo, pois a gente pode comparar a reconstrução com o registro fóssil, e posso dizer que não estava fora daquilo que os fósseis representam. A réplica está no tamanho estimado que o animal atingia quando adulto. Entretanto, tinha outra réplica lá de Montealtosuchus no tamanho dos fósseis mais completos encontrados, que aliás, na minha opinião, é ainda mais condizente com os fósseis:



É... pra mim isso não tem cara de cachorro...

Para se fazer uma paleoarte - que é a restauração do animal em vida por meios artísticos - como as da foto acima, é feito todo um estudo detalhado nos fósseis. No caso de animais cujo registro fóssil é escasso e fragmentado, o que acontece bastante, a reconstrução do animal em vida é tomada em base de animais aparentados cujo registro é mais completo. Mas no caso tanto do Baurusuchus quanto do Montealtosuchus, o registro fóssil é tão bom que não precisou especular-se muito na aparência. O Guilherme, digamos, "escolheu os fósseis errados" para tecer uma crítica à reconstituição artística. E ainda mentiu descaradamente no tocante ao couro do animal.

PARECE MAS NÃO É

Uma outra prova de que o Guilherme Born não sabe NADA de paleontologia é a argumentação a seguir...

No texto, ele diz que, se o simples fato do crânio apenas "lembrar", ainda que remotamente, um crocodilo, poderíamos colocar o Baryonyx, um dinossauro de focinho alongado, como elo dos crocodilos se baseando só no crânio, pela "lógica evolucionista" (segundo ele). O Guilherme coloca a foto da reconstituição artística de uma Baryonyx e diz que é mais parecida ainda com o crocodilo do que com o "elinho", mas depois ao mostrar uma imagem do bicho de corpo todo, escreve "quanta diferença de um crocodilo"...

Em primeiro lugar, ele escreveu errado o nome científico do dinossauro: o nome científico correto é Baryonyx walkeri e não "Baryonix wakeri". Mas até aí tudo bem, errar um nome assim é até aceitável já que este não é um artigo acadêmico. O erro está em pegar uma ilustração simples e tentar convencer através dela que, se os cientistas encontrassem só o crânio do Baryonyx, eles diriam que o animal é um ancestral do crocodilo. E não é assim que as coisas funcionam.

O Baryonyx é um espinossaurídeo, um grupo de terópodes com crânio alongado, porém estreito e parecido remotamente com o de um crocodilo. Se um leigo encontrasse um crânio de Baryonyx, ou de Spinosaurus, ou Suchomimus, ou Irritator, etc, afirmaria que o bicho é ou um jacaré gigante ou parente do jacaré. No entanto, um cientista não trabalha com um simples "parece que é"... O crânio do Baryonyx, bem como outros fósseis de animais da mesma família, foram cuidadosamente estudados para uma classificação correta, e todos os detalhes indicam que o animal é um dinossauro terópode - o mesmo grupo onde os raptores e, em termos genéticos, as aves estão inclusos. Já o Baurusuchus, por exemplo, foi estudado por mais de 4 anos (informações do museu) e a conclusão foi de que o animal era um crocodilomorfo do grupo dos Crocodilotársios.

No entanto, o Guilherme ignorou todos os milhares de estudos que foram feitos em torno dos crânios e, além de fazer essa afirmação "sem noção", pegou ilustrações simplórias e fez o seu "ilusionismo". Veja as duas imagens que ele utilizou:




Com essas imagens acima, a brincadeira do Guilherme funciona bem com um leigo. Mas com imagens mais complexas do bicho e comparações dos crânios de crocodilo com o de espinossaurídeos não enganaria nem o mais desatento dos leitores. Veja abaixo:

Acima: a comparação do crânio do Baryonyx com o focinho fossilizado do
Spinosaurus e com um crânio de Crocodilo do Nilo





Eu pessoalmente já vi fósseis tanto de parentes do Baryonyx quanto de crocodilianos (já pude estudar um jacaré taxidermizado bem de perto), e posso garantir também que uma coisa não tem nada a ver com a outra. Mesmo os dentes são diferentes...

EVOLUÇÃO MAL ENTENDIDA

Ao final do artigo, o nosso entrépido criacionista faz uma reflexão em torno da teoria da evolução, e novamente, ele fala coisas erradas aqui:

Darwin nos mostra que a evolução vem sempre do mais simples para o mais complexo, contrariando o criacionismo, que diz que o complexo precede o simples. Esse pensamento, do mais simples ao mais complexo, é o pensamento geral entre os evolucionistas.
Partindo daí, por que o Elinho teria se modificado para um crocodilo, sendo que ele era muito mais ágil, tinha uma estrutura muito melhor, em relação à estrutura corporal dos crocodilos, era predador, não necessitando se esconder na água, dentre tantos outros atributos a ele conferidas que são melhores do que os de um crocodilo?

A ideia de que evolução é sempre do simples ao complexo é uma ideia equivocada. Evolução é apenas, como Darwin preferia chamar, "descendência com modificação". Ou seja, apenas mudanças adaptativas ao longo das gerações, e não aumento de complexidade. Tanto é que a ameba tem o genoma maior que o do homem... Isso já desmonta todo o questionamento que o Guilherme faz em torno do "Elinho".  

O fato do crânio do Elinho ser parecido com o de um crocodilo classifica-o como crocodilomorfo, porém não quer dizer que ele é um elo perdido da evolução dos dinossauros para os crocodilos. De fato, este animal era um dinossauro e não um crocodilo.

Se você teve a paciência de ler esse artigo todo, já sabe que a frase acima está errada tanto quando ele diz que o animal era de fato um dinossauro, como quando que ele diz que evolucionistas dizem que ele é um "elo perdido da evolução do dinossauros para os crocodilos", pois nenhum evolucionista ou defensor da teoria da evolução diria isso. Os crocodilos não evoluíram dos dinossauros, mas sim ambos descendem de um mesmo ancestral - daí o fato de serem semelhantes - e muito menos o "Elinho" evoluiu para os crocodilos propriamente ditos: o Elinho é o ancestral dos jacarés americanos!

Uma questão que me intriga é como estes animais (dinossauros) desapareceram. A teoria evolucionista mais aceita é a do meteoro. Se o efeito que o meteoro trouxe for real, a vida na terra teria acabado em uns poucos anos, tanto na terra como na água, devido à poeira levantada pela queda do tal meteoro. A poeira levantou e cobriu o céu durante décadas ou até séculos. Sem sol, as plantas não realizam a fotossíntese e morrem. Sem plantas, os animais herbívoros morrem. Sem os herbívoros, os carnívoros passam a atacar outros carnívoros e sucessivamente, morrem. O plâncton, principal alimento na vida marinha, sem sol, morre, consequentemente, os peixes e outros animais marinhos.
E aí? onde foi parar o nosso Elo perdido? Como um animal pode evoluir, apartir de um animal morto?

Onde foi parar? A resposta está num detalhe importantíssimo que o Guilherme não colocou na descrição acima: o fato de que todo animal com mais de 2 metros de comprimento ter sido extinto apenas! O resto, que era de dimensões pequenas e conseguia se esconder da extinção - um jacaré ou crocodilo de pequeno porte conseguiria tal feito - sobreviveu à extinção dos dinossauros. O "Elinho" viveu antes da extinção dos dinossauros - enquanto ele viveu há 80 milhões de anos, a grande extinção ocorreu há 65 milhões de anos - , logo, quem viveu na época dessa extinção eram já os descendentes dele: os jacarés americanos. E nem todos sobreviveram à catástrofe... um descendente do "Elinho", o Deinosuchus, foi extinto junto com os dinossauros. Apenas jacarés e aligatores de pequeno porte sobreviveram e deram origem á variedade atual, como o jacaré-do-pantanal, o jacaré-do-papo-amarelo ou mesmo o Purussauro, um exemplar gigante posterior aos dinossauros mas que não chegou aos dias atuais.

CONCLUSÃO

Depois de todo esse show de desinformação que Guilherme Born dá, ele chega a desonesta conclusão de que "Nosso Elinho, o Baurusuchus salgadoensis não é nem de longe um "elo perdido" entre dinos e crocodilos. Ele é um dinossauro e não um intermediário. Entretanto, depois da nossa análise, qualquer um pode ver que na realidade o "Elinho" continua a ser um "elo perdido" válido para as transformações morfológicas dentro do grupo dos crocodilomorfos, onde representa muito bem a transição de crocodilotársios para os aligatores e jacarés atuais. E nem de longe nem o Montealtosuchus nem o Baurusuchus - que são animais bem diferentes - eram dinossauros, muito menos "raptors"...

A visita que eu fiz para o museu de Monte Alto na verdade nem foi para desmentir esse artigo, mas foi ocasional, fui a trabalho. Diante de tantas coisas que eu testemunhei de perto, não deixei de sentir muita indignação pela atitude desse cristão do texto. Não posso falar da pessoa dele, obviamente (só Deus é quem pode falar), mas pelo menos nesse artigo, posso dizer que ele colocou muita desinformação e, uma vez que publicou algo sem estudar direito antes, não agiu honestamente.

Jesus disse em João 8:32 "E conhecereis a Verdade e a Verdade vos libertará". Sendo assim, o cristão tem a incumbência de fazer com que as pessoas conheçam a verdade sobre o Criador, porém, será correto revelar a verdade de Deus usando mentiras? Pois é isso que o Guilherme Born visivelmente fez. Na verdade, esse artigo é um exemplo muito evidente de como muitos criacionistas agem. O propósito do artigo criacionista é desmascarar um fóssil de transição, para fazer com que o leitor aceite que a teoria da evolução é uma farsa, uma conspiração, e que Deus é o criador de todas as coisas (tanto é que esse artigo é do "Descontradizendo Contradições", que é Comunidade Cristã Gólgota). Mas agir assim não só é errado mas antibíblico, pois a pessoa que assim age "muda a verdade de Deus em mentira" (Romanos 1:25 parte a) e passa um mal testemunho de Cristo, pois as pessoas que entendem do assunto que o Guilherme Born abordou o verão como um mentiroso e assim será mais difícil da pessoa conhecer a verdade de Cristo.

Finalizo esse texto citando um trecho de um versículo que resume muito bem o cenário criacionista dos dias de hoje, infelizmente:

"porque meu povo se perde por falta de conhecimento;" - Oséias 4:6