O que dizer mediante essa contradição dos fatos? Podemos tirar qual real proveito de Gênesis capítulo 5?Essa realmente é uma questão bem delicada, tão delicada que muitas vezes se diz "jamais saberemos a resposta". No entanto, após uma atenta análise do assunto nós poderemos chegar á uma resposta mais sólida...
"NÃO SÃO TÃO EMPOLGANTES..."
Temos que admitir: as genealogias nunca foram as partes mais lidas da Bíblia. Por exemplo, Ray Stedman conta a história de um velho ministro escocês que estava lendo o primeiro capítulo do Evangelho de Mateus. Ele começou a ler: “Abraão gerou a Isaque, e Isaque gerou a Jacó, e Jacó gerou a Judá”; olhou à frente e viu a lista a seguir e disse: “e eles continuaram gerando um ao outro página abaixo, até a metade da próxima página”...Brincadeiras á parte, pra sermos honestos, isso é o que a maioria de nós faz com as genealogias da Bíblia - nós as pulamos.Leupold, em um dos clássicos comentários do livro de Gênesis dá esta palavra de aviso aos pregadores: “Nem todo homem se arriscaria a usar este capítulo como texto numa pregação.”Nem todos mesmo. Há um versículo das Escrituras, inclusive, que não nos deixará passar por Gênesis 5 sem um sério estudo desta genealogia: “Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção e para a educação na justiça.” (II Tm. 3:16). Ou seja, não é sem importância que aquele registro está ali. Mas afinal de contas, serviriam elas para datar a história da Terra?
OMISSÕES NO REGISTRO
O quinto capítulo de Gênesis é apenas uma das muitas genealogias contidas nas Escrituras. Aprender a realidade deste capítulo nos encorajará e instruirá em como abordar as outras inúmeras genealogias da Bíblia.Em primeiro lugar, temos que compreender que as genealogias de Gênesis 5 e 11 não são, de forma alguma, as únicas dos tempos antigos. Os egípcios tinham registros de seus reis, assim como os sumérios.Os hititas tinham catálogos de oferendas reais, sem dúvida nenhuma de valor histórico e cronológico. Estas antigas genealogias do Oriente Médio são muito instrutivas para determinar a correta interpretação dos registros bíblicos.Mas o que muitos não atentam é que as genealogias não tinham a intenção de ser usadas como cronologia.
Como já foi mencionado, os Criacionistas da Terra Jovem leem Gênesis 5 e pensam que só precisam somar os números ali contidos para estabelecer a idade da civilização na terra. Ussher, por exemplo, chegou à data de 4.004 a.C para os acontecimentos de Gênesis 1, ou seja, a Criação. Com isso, teríamos um tempo absurdamente curto para a Pré-História e Adão tendo convivido com todos os seus descendentes, á excessão de Noé.A nomeação individual não implica, necessariamente, que uma seqüência contínua deva ser presumida. Com freqüência, nomes foram omitidos e os registros genealógicos foram seletivos. Ou seja, temos um cálculo errado da historia da civilização se usarmos a base de cálculos apresentada pelos Criacionistas da Terra Jovem, uma vez que os cálculos seriam com base em pontos específicos da genealogia e não nela como um todo. Como assim?
Acontece que a expressão “A gerou B” nem sempre implica em parentesco direto. E temos exemplos disso em outras genealogias contidas na Bíblia. Por exemplo, Mateus 1:8 afirma que “Jorão gerou Uzias”, mas, no Velho Testamento (II Re. 8:25; 11:2; 14:1,21) aprendemos que Jorão foi o pai de Acazias, que foi pai de Joás, pai de Amazias, pai de Uzias. Assim, “gerou” pode significar “gerou uma linhagem que culminou em”.
E isso não é algo anormal em uma genealogia; na verdade nunca foi. De acordo com Kitchen, a lista do Rei Abydos no Egito, por exemplo, silenciosamente omite três grupos inteiros de reis (Nona para Undécima, Décima Terceira para Décima Sétima Dinastias e os faraós Amarna) em três pontos distintos, no que seria, de outra forma, uma série contínua; e outras fontes nos capacitam a saber isto. Sendo assim, termos como "filho" e "pai" podem significar não só "filho (neto)" e "pai (avô)", mas também "descendente" ou "ancestral", respectivamente.
A disposição das genealogias, num padrão claro e organizado, também pode sugerir algumas outras coisas, menos um indicador cronológico. A genealogia de Cristo em Mateus, por exemplo (Mt. 1:1-17), está disposta em três séries de 14 gerações cada. E esta genealogia é conhecida como seletiva.Geralmente os números nas genealogias no Antigo Oriente Médio eram de importância secundária.
O propósito primário era estabelecer a identidade familiar de alguém, suas raízes. É pra isso que a genealogia está na Bíblia. Mas em parte alguma de Gênesis 5, ou da Bíblia, os números foram acrescentados para estabelecer qualquer tipo de cronologia. Às vezes, os números de um relato diferem dos de outro. Ainda que haja muitas explicações para isto, uma delas é que estes números foram dados apenas aproximadamente. Números exatos não servem ao propósito da genealogia. Ainda que não ousemos dizer que os números não sejam literais, simplesmente mostramos a maneira como tais números foram usados no antigo Oriente. Por exemplo, a afirmação de Gn. 15:13 a respeito da duração da estadia no Egito, ou de I Re. 6:1 cobrindo o lapso de tempo entre o Êxodo e a construção do templo de Salomão. Não tem como sabermos o porquê da omissão, e isso, claramente, indica que não se tratam de dados cronológicos precisos.
Especialmente na sociedade pré-monárquica, longos registros cronológicos são altamente improváveis por causa da sua falta de importância. Antes, pode-se esperar que as aproximações sejam feitas de várias maneiras, e o uso de números redondos, particularmente, sugere algum grau de aproximação. É o significado destes números para os escritores bíblicos que devemos compreender antes de tentar construir uma cronologia absoluta sobre eles.
E JUDAS 14?
Porém, sabendo agora que a cronologia bíblica pode não ter um sentido cronológico exato, o que então podemos dizer a respeito de Judas versículo 14?Lá diz o seguinte:
"E destes profetizou também Enoque, o sétimo depois de Adão, dizendo: Eis que é vindo o Senhor com milhares de seus santos; "(Grifo nosso)
Superficialmente esse versículo parece indicar que a genealogia de Gênesis pode indicar que a humanidade tem só 6 mil anos de existência. Porém, a verdade não é bem assim.
É certo que esse versículo claramente prova que Enoque foi uma pessoa real e revela detalhes interessantes do tempo de Enoque e de seu caráter (muitos creem que essa é uma referencia ao livro de Enoque, que ao meu ver, pode ter alguns pontos reais em seu relato), no entanto, não há menção em Judas 14 a respeito do que se refere no que Enoque era o sétimo depois de Adão, tanto é que existe duas concepções acerca disso: ou Enoque representa a sétima geração após Adão ou Enoque foi o sétimo descendente direto de Adão. Alguns julgam ainda que Enoque ainda teria sido apenas o sétimo grande patriarca depois de Adão. Enfim, o sentido desse trecho de Judas 14 é ambíguo.
Em todo caso, se Judas 14 se referir a Enoque como sendo realmente o sétimo descendente de Adão, isso apenas indicaria que, de Adão a Enoque, o sentido cronológico foi exato, e que a omissão na genealogia estaria entre Matusalém e Noé. Em outras palavras, judas 14 não serve como indicador preciso de que a humanidade tem apenas 6 mil anos. Nem o livro de Gênesis. Essa não é a intenção de ambos.
DUAS GERAÇÕES
Ora, se não podemos usar cronologicamente a genealogia de Gênesis capítulo 5, existe alguma lição que podemos tirar desse registro? Na verdade, sim. E a resposta está no paralelo que apresenta a genealogia de Caim, no capítulo 4, e a genealogia de Sete, no capítulo 5. Como assim?Se analisarmos o texto, veremos a ênfase que é dada na genealogia de Sete, onde há o registro inclusive da idade dos patriarcas (que indica uma incrível longevidade, o que talvez seria uma "sequela" da vida eterna que teria Adão antes de comer o fruto),e até algumas referências alegando que muitos eram fiéis a Deus (lemos lá a citação de que Enoque foi transladado porque andava com Deus).A genealogia de Caim é citada de forma muito breve, no entanto; as únicas coisas que são realmente destacadas na genealogia do capítulo 4 são as contribuições culturais desta (instrumentos musicais, cidades, cabanas... relativas curiosamente á cultura dos Homens de Neanderthal) e o mal exemplo da geração em questão. Aliás, sobre Lameque e Enoque, é curioso o contraste que temos. Observe:
- O Enoque filho (ou descendente) de Caim deu início á cultura Neanderthalense, que era de humanos corruptos. O Enoque filho de Jarede andou com Deus e foi curiosamente arrebatado.
- O Lameque filho de Metusael deu início á poligamia, era um assassino, tinha orgulho de o ser e fez pouco caso da ordem de Deus para Caim.
- Já o Lameque filho (ou descendente) de Metusalém foi um homem piedoso; o nome de seu filho revela sua compreensão da queda do homem e a maldição de Deus sobre o solo. Também mostrou sua fé em que Deus libertaria o homem da maldição através da descendência de Eva.
Por que esse contraste? Simplesmente porque isso demonstra que, embora toda a geração humana estivesse amaldiçoada com a morte, somente a geração de Sete, a Homo sapiens, sobreviveu. A "geração dos homens piedosos", digamos assim. Enquanto que, a geração que embora tivesse progressos culturais era um verdadeiro contra-exemplo, foi "lavada" pelo dilúvio.
LIÇÃO DE PROVEITO
A pergunta para isso, jogando para os dias de hoje é: Considerando que Jesus compara o dilúvio bíblico com o Fim dos Tempos, você está em qual geração espiritual: a de Sete ou a de Caim?E, falando nisso, é interessante notarmos a similaridade da geração de Caim com a geração do mundo de hoje; é como se o relato da genealogia de Gênesis fosse um reflexo direto do que vemos em Apocalipse, conforme menciona o teólogo e missionário Edson Teixeira. O crescimento incrível da tecnologia, a exclusão de Deus da vida dos descendentes de Caim (que é constatada pelo significado do próprio nome do primeiro filho de Caim, Metusael, que no hebraico significa "Deus foi banido") , a começar pelo próprio Caim, é surpreendentemente semelhante ao que acontece hoje á civilização moderna. E da mesma forma como diz o Apocalipse sobre o que vai acontecer com a civilização secular de hoje, a geração de Caim foi exterminada por um evento cataclísmico enviado por Deus é Terra (o dilúvio). Sendo assim, cabe a nós analisarmos: em que geração hoje nós podemos nos enquadrar? Na geração salva de Sete, ou na geração perdida de Caim?CONCLUSÃO
Levando em conta que não chegaremos a dados precisos estabelecendo uma data para o começo da civilização com base na genealogia contida em Gênesis, é certo que não há contradição entre a Bíblia e os métodos científicos de datação, que indicam o aparecimento da raça humana há 200 mil anos a.C.Tendo essa nova visão de genalogia, acabamos também por "ganhar" um registro arqueológico completo das gerações de Caim e de Sete, mencionadas no capítulo 5. Isso porque, segundo os mais recentes estudos, a nossa espécie atual surgiu de uma espécie ancestral em paralelo com outra espécie humana - a Neanderthal - que foi extinta inexplicavelmente, mesmo com toda a cultura que possuía (Mais detalhes sobre o assunto você encontra aqui).Consideremos, então, cuidadosamente as palavras do grande estudioso, Dr. B. B. Warfield, quando escreve:"Estas genealogias devem ser consideradas confiáveis ao propósito para o qual foram registradas; mas não podem ser aplicadas com segurança ao uso de outros propósitos para os quais não foram intencionadas, e para os quais não são adequadas. Particularmente, fica claro que o propósito pelo qual as genealogias foram dadas, não requer um registro completo de todas as gerações, através das quais os descendentes das pessoas a quem foram destinadas, se dirige; mas apenas uma indicação adequada da linhagem particular através da qual vem o descendente em questão. De acordo com o que se depreende de um exame mais acurado, essas genealogias das Escrituras são aplicadas livremente para toda sorte de propósitos e, raramente pode-se afirmar, com segurança, que elas contém um registro completo de todas as séries de gerações, uma vez que é óbvio que, muitas vezes, um grande número delas é omitido. Não há razão inerente à natureza das genealogias das Escrituras pela qual uma genealogia de dez seqüências registradas, tais como as de Gênesis 5 e 11, não possam representar um descendente real de uma centena ou milhar ou dez milhares de seqüências. O ponto a ser estabelecido não é que estas sejam todas seqüências que ocorreram entre início e o fim dos nomes, mas que isto é uma linha de ascendência através da qual alguém encontra o antecedente ou descendente de outrem."
FONTE:http://bible.org/seriespage/enfrentando-genealogias-g%C3%AAnesis-51-32
http://www.bible-facts.info/comentarios/vt/genesis/AGenealogiadeAdao.htm
http://www.atosdois.com.br/print2.php?codigo=386
O que você me diz sobre Judas 14?
ResponderExcluirB777
ResponderExcluirExelente pergunta...Não havia pensado nisso mas é interessante amenção em Judas 14, dizendo que Enoque foi o sétimo depois de Adão.
Vou pesquisar sobre isso bem a fundo e prometo que em breve a resposta estará NESSE MESMO ARTIGO. Aguarde.
Admiro seus argumentos e interesse no assunto. Porém você oscila entre criacionismo e evolucionismo e quer compatibilizar as Letras Sagradas com dados científicos, que como sabemos, são muito duvidosos e possuem uma forma de datação pífia. Por mais que hoje, neste mundo iluminista (ou illuminati) em que vivemos, a ciência prevaleça e também nos maravilhe, em termos de história antiga da humanidade e datação ela é muito falha, senão, até mesmo, imaginativa. Prefiro acreditar em 6 mil anos da criação, algo em torno disso, e me preparar para o descanso sabático milenar (7° milênio) com o Senhor Jesus. Reitero, novamente, que para aqueles que não abrem mão da tentação do cientificismo, a sua argumentação é apropriada para adequar as Sagradas Escrituras com as fábulas de nossos arqueólogos céticos e teóricos evolucionistas. Por fim, concluo dizendo que não sou fanático e nenhum cego religioso. Até certo ponto sou muito crítico, e também não fujo totalmente das tentações do empirismo. Porém quando falamos de datação e idade da humanidade, sou cético em relação à ciência, não porque nunca estudei o assunto do ponto de vista científico, pelo contrário, já tive contato em minha formação acadêmica com arqueologia, biologia, antropologia, etc., e por fim concluí, não pela ignorância religiosa, mas pelos critérios científicos adotados, que as formas de datações atuais e as teorias evolucionistas são as maiores lorotas da era moderna. Aguardo sim, o fim do mundo como conhecemos, com o breve retorno de Jesus, ao fim destes 6 milênios da criação, para que o sétimo seja o milênio celestial. Os mistérios de Deus são imperscrutáveis e a sabedoria humana loucura. Obrigado pela atenção e parabéns pela dedicação ao estudo das Escrituras Sagradas.
ResponderExcluirCada um tem um modo de pensar e respeito isso.
ResponderExcluirObrigado pelo comentário, mais uma vez.
Há mais de 3 anos me dedico a esse tema; sempre acreditei na inerrância bíblica (e continuo) porém "cresci" no meio cristão com a idéia de que a evolução era uma lorota com o objetivo de desviar as pessoas da Verdade; basicamente como você acredita.
Quando comecei a estudar o assunto, pedi orientação a Deus e resolvi estudar o tema de forma diferente. Ou seja, não li apenas os contrargumentos do criacionismo e ponto. Eu confrontei: 1º os argumentos evolucionistas 2º os argumentos criacionistas contra a evolução e 3º a Bíblia á parte. Enfim, fui imparcial no estudo pois queria saber a verdade, mesmo que não fosse aquilo que eu queria que fosse.
O resultado dos estudos está todo nesse site.
Á propósito, eu lhe recomendo que acesse a página "Mentiras por trás do Criacionismo". Tenho certeza que você vai ver lá muita coisa que geralmente não é ensinado nos sites criacionistas.
Paz do Senhor! Que Deus te abençõe e continue contribuindo com seus argumentos!