Essa pergunta não é feita á toa se considerarmos o Criacionismo da Terra Jovem... Isso porque esse achado tem sido uma "pedra no sapato" para aqueles que rejeitam a evolução biológica. "Lucy" é o apelido dado ao esqueleto mais completo até agora do primata fóssil cientificamente conhecido como Australopithecus afarensis. E esse primata é o foco da discussão, pois ele já deu muito o que falar, a ponto dos criacionistas apresentarem posições diferentes em torno do fóssil, porém com a mesma alegação: não tinha parentesco nenhum com o homem. Recentemente a tese criacionista quase chegou a um consenso sobre o que é a Lucy, no entanto as últimas descobertas - e alguns fatos simplesmente ignorados - deixam novamente o Criacionismo da Terra Jovem sem resposta.
E não é só isso: quando tratamos do tema Australopithecus no "universo criacionista", também entra no assunto algumas fraudes, porém essas fraudes não foram feitas á favor da evolução, mas sim á favor do criacionismo... Como assim? Vejamos esse (curioso) caso mais de perto, e também conheçamos quem é realmente a Lucy.
MUDANDO CONCEITOS
Conforme pode ser visto aqui, hominídeos anteriores ao primeiro homem não é uma coisa que coloca a Bíblia em descrédito. No entanto, conceitos como esse, uma vez comprovados definitivamente, podem colocar o Criacionismo da Terra Jovem em total descrédito. Isso quer dizer que a luta contra os fósseis transicionais não é exatamente em defesa da Bíblia, mas sim do Fundamentalismo Criacionista e da Teoria da Criação Especial. Por isso, por vezes parece que "vale tudo" para defender essa posição, mesmo quando as evidências apontam para o sentido oposto.
É mais ou menos esse o motivo do desentendimento que ocorreu e continua ocorrendo entre os criacionistas sobre a Lucy, ou melhor, o Australopitheus afarensis.
De acordo com os cientistas evolucionistas, o gênero Australopithecus é considerado um dos mais antigos hominídeos, tendo dado origem diretamente ao gênero Homo, ou seja, ele é considerado um fóssil de transição entre os primatas mais antigos e a nossa espécie, um "elo perdido", vulgarmente falando. Obviamente o criacionismo jamais poderia aceitar essa interpretação acerca dos fósseis do Australopithecus. Desde então, as opiniões sobre o que seria essa criatura para o criacionismo não deixaram de surgir. Inicialmente, é claro, os criacionistas da Terra Jovem possui um consenso a respeito da idade do fóssil: ele seria pré-diluviano, no entanto não teria mais de 6 mil anos de idade, ao contrário da data estipulada pela geocronologia, que é de 3 milhões de anos atrás. Mas o consenso limita-se á esse fato: a definição para o Australopithecus foi extremamente variada no decorrer da história do Criacionismo da Terra Jovem.
UM PUNHADO DE OSSOS
A descoberta dos esqueletos de Australopithecus afarensis, em 1974, criou muita polêmica a princípio, a começar pelo tamanho desproporcional entre o macho e a fêmea da espécie e também os próprios ossos, que apresentam literalmente uma mescla de características simiescas e humanas.
Mas só o fato da diferença entre as alturas entre o macho e a fêmea foi suficiente para se argumentar que os fósseis reunidos com esse nome podiam muito bem ser partes dispersas de vários animais. Estava armado o dilema, já que seria impossível discutir a evolução de uma criatura indefinida — sobre a qual nada se podia dizer de concreto, ou confiável. No entanto essa argumentação já caiu por terra apenas duas décadas depois do anúncio da descoberta do fóssil, pois comprovou-se que de fato os ossos eram do mesmo animal. Atualmente nenhum criacionista duvida disso.
Então, restou partir para o "plano B". E é aí que as fraudes se iniciam...
"TEM QUE SER UM CHIMPANZÉ!"
Uma vez comprovada a autenticidade desse primata, teria que existir alguma evidência que fizesse cair por terra a alegação de que a criatura era um hominídeo, como apontavam os evolucionistas. Foi aí que surgiu a tese de que o Australopithecus seria um tipo de chimpanzé e não um humanóide.
As tentativas de validar o fato foram feitas por dois cientistas: Solly Zuckerman e Charles Oxnard. O problema é que ao contrário do que os criacionistas ainda afirmam, os estudos realizados por esses cientistas não foram feitos corretamente.
Inicialmente, Solly Zuckerman tentou provar com estudos biométricos (com base em medições) que os australopithecus foram macacos, porém, seus estudos foram considerados obsoletos em 1950.
Já Charles Oxnard (1975), afirmou, baseado em suas análises multivariadas, que o Australopithecus não são mais intimamente relacionados, ou mais semelhante aos humanos do que os macacos modernos. O cientista Howell (1978), no entanto, criticou esta conclusão por uma série de motivos, dentre os quais:
- Os resultados obtidos por Oxnard foram baseados em medições de alguns ossos do esqueleto, que eram normalmente fragmentadas e muitas vezes mal conservados.
- As medições não descrevem a forma complexa de alguns ossos, e não distinguem entre os aspectos que são importantes para a compreensão de locomoção do fóssil.
Como se isso não bastasse, há "uma enorme quantidade de evidências", baseado na obra de cerca de 30 cientistas, o que contraria o trabalho de Oxnard. Estes estudos utilizaram uma variedade de técnicas, incluindo aqueles utilizados por Oxnard, e foram baseados em muitas diferentes partes do corpo do fóssil. Eles indicam que a esmagadora maioria dos Australopithecus se assemelham a seres humanos de forma mais estreita do que os chimpanzés.
Agora, o pior não é isso: o fato é que a "Lucy" foi descoberta DEPOIS dos estudos de Oxnard!!
É certo que, se tais estudos não foram bem feitos, a culpa não é do criacionismo. O problema é que os criacionistas ainda mencionam tais estudos como fieldignos, o que não são, e os atribuem como sendo sobre a "Lucy", o que também é mentira. Mas poderia haver alguma farsa criada pelos próprios criacionistas em favor da tese sobre os Australopithecus serem chimpanzés?
É muito comum ouvirmos ou lermos a afirmação dos criacionistas que o Australopithecus não tinha nada de humano. Para isso são usados diversos argumentos. Ou até farsas...
Uma fraude quase nunca mencionada que foi feita em favor do criacionismo é de autoria da Sociedade Torre de Vigia, ou seja, das Testemunhas de Jeová (embora eles sejam indúbitavelmente criacionistas da Terra Antiga, usam também de argumentos contra a evolução biológica). Trata-se de um conjunto de gravuras apresentadas no capítulo sete do livro "A vida - qual sua origem: Criação ou Evolução?". Na página 94, vemos a representação de três crânios justapostos - identificados como pertencendo a um homem moderno, a um chimpanzé e a um Australopithecus. A gravura visa a produzir no leitor a impressão de que o fóssil guarda relação estreita com o chimpanzé e não com o ser humano, justamente como o criacionismo quer que seja. Mas a que critério levaria a esta conclusão? Para os escritores da Sociedade Torre de Vigia, uma comparação morfológica dos crânios pareceu fazer sentido . Eis a figura:
O autor do livro salienta que as características do Australopithecus (à esquerda) eram "sobrepujantemente simiescas". Na forma como os crânios são colocados acima, um ao lado do outro, realmente é forte a impressão causada no leitor de que o fóssil tem parentesco com o chimpanzé (ao centro), dificilmente tendo alguma vinculação com o ser humano atual (à direita). Todavia, a gravura acima apresenta uma peculiaridade que facilmente escapa aos olhos do leigo... Observe a gravura abaixo, extraída do livro antecessor ao vigente (Veio o Homem a Existir por Evolução ou Criação?), na pág. 85:
Parece-lhe familiar a representação acima? Na verdade, trata-se essencialmente da mesma figura publicada no livro antecessor. O layout gráfico foi melhorado, mas a figura é indiscutivelmente a mesma. Observe o crânio no alto, à esquerda - identificado como "macaco extinto" e compare-o ao da gravura anterior, identificado como "crânio de chimpanzé". A semelhança não é coincidência: os crânios são idênticos. Neste caso, podemos nos perguntar: afinal, o crânio é de um chimpanzé ou de um macaco extinto? Bem, há duas possibilidades: ou autor não conhecia o aspecto de um crânio de chimpanzé ou apoiou-se na ignorância do leitor, o qual dificilmente perceberia a alteração na identificação... Na verdade, o crânio em questão não é de um chimpanzé. Aí está a fraude.
Mas, que interesse teriam os editores do livro em adulterar o texto? Sobre isso pode-se apenas conjecturar... Contudo, tem-se uma hipótese: a exposição de um genuíno crânio de chimpanzé poderia levar a dificuldades... Vejamos: os chimpanzés possuem grandes caninos, os Australopithecus, não. Pode parecer um insignificante detalhe, porém a arcada dentária dos Australopithecus - notavelmente semelhante à dentição humana - é um dos aspectos anatômicos que os coloca como candidatos a membros na linhagem de seres que conduziram ao homem. Comparemos agora um verdadeiro crânio de chimpanzé com os outros dois, conforme a figura abaixo:
Será que o Australopithecus é um chimpanzé?
Apesar disso, isso não é o suficiente para derribar de uma vez a tese de que o Australopithecus tem de ser classificado como um chimpanzé. Uma alegação apresentada nesse link, por exemplo, afirma que o Australopithecus era um chimpanzé porque andava encurvado e possuía hábitos arborícolas. No entanto, para ser verdade de que ele andava encurvado ele teria que ter o quadril adaptado para tal, ou seja, igual ao dos símios e diferente da do homem. Mas será que isso acontece?
Em primeiro lugar, deve-se ter em mente que ocorre por parte dos criacionistas uma generalização a respeito do que seria o Australopithecus, como se todas as espécies de Australopithecus fossem iguais. Observe:
- O Australopithecus africanus tinha uma feição mais puxada para o gênero Homo.
- O Australopithecus robustus, hoje reclassificado como Paranthropus robustus, tinha algumas semelhanças entre o gênero homo, mas era bem mais robusto.
- O Australopithecus afarensis, a espécie de Lucy, possuía uma mescla perfeita entre antropóides e hominídeos
- O Australopithecus ramidus, por outro lado, era realmente mais simiesco. Esse sim era arborícola.
Tendo tantas características diferentes, é muito precipitado afirmar que o Australopithecus é um chimpanzé, já que existem variações notáveis entre as espécies.
Mas mesmo assim, vamos considerar uma afirmação daquele site criacionista, a de que o Australopithecus andava arcado.
Uma imagem vale mais que mil palavras. À direira, o Australopithecus afarensis; à esquerda, o Chimpanzé (Pan troglodytes):
Na imagem abaixo, podemos ver a real postura do Australopithecus e a do Cimpanzé, contrária a afirmação sem base lançada pelos criacionistas fundamentalistas:
Ademais, o Australopithecus era tão diferente do chimpanzé que um site criacionista acabou fazendo uma estranha menção a respeito dos fósseis da Lucy:
"Outros exemplos de Australopithecus, os achados na África do Sul (Australopitecus Afarensis), tidos como exemplo de macacos sul-africanos, (onde se enquadra o famoso fóssil de Lucy), por terem uma cultura humana ainda muito primitiva, foram reclassificados como sendo pigmeus."
(Fonte da alegação)
Pigmeu?? Ora, se o criacionismo classifica o Australopithecus como chimpanzé, por que vemos a alegação de que ele era um pigmeu?? Como podemos ver nas imagens acima, o seu crânio tem traços de pertencer á mesma família do Homo sapiens, mas de forma alguma era de Homo sapiens...
Tudo isso significa que encaixar o Australopithecus como sendo chimpanzé é um erro.
Em vista a todas essas informações, a ação mais recente dos criacionistas é a de classificar os Australopithecus como um grupo á parte de símios, os Australopitecídeos. Essa ação leva em conta que o Australopithecus não era chimpanzé, mas também não era um hominídeo.
Para tal argumento ser derribado, bastava termos evidencias anatomicas de que o Australopithecus possui características que o classificam na família dos Hominídeos.
Bom, o que acontece se compararmos a bacia e as pernas do Homem com a do Australopithecus e do Chimpanzé? Quais se parecem mais?
Atente também para os pés do Chimpanzé, adaptados para a vida arborícola, e os do Australopithecus, que são mais semelhantes ao do homem. Isso também rebate, por tabela o argumento criacionista de que o Australopithecus era arborícola.
E que tal analisarmos as maxilas?
A maxila do canto esquerdo é a do Chimpanzé, a do meio é do nosso amigo Australopithecus e a do canto direito é a de um Homem.
Uma característica que colocaria o Australopithecus como Hominídeo seria a postura. Sabemos que os símios não andam eretos mas bastante encurvados; se o Australopithecus andou com uma postura próxima a do Homo sapiens teríamos mais uma contra-evidência para o argumento criacionista.
Vejamos? para analisarmos isso basta compararmos a posição do orifício chamado "foramen magno", de onde "nasce" a coluna vertebral. A do ser humano se encontra na base do crânio, o que permite que ele ande ereto. Observe o foramen magno do ser humano:
Agora, abaixo podemos ver o foramen magnum do crânio de quatro primatas: Australopithecus, Cimpanzé, Gorila e Orangotango:
Qual se parece mais com o foramen magnum do Homo sapiens? Obviamente que é o crânio laranja. E o crânio laranja é de qual primata? Resposta: Australopithecus afarensis. Note que o foramen magno não está tão embaixo, mas isso é porque ele possuía uma curvatura "leve" na espinha. De acordo com os fósseis o andar ereto total foi a partir do Homo ergaster. Mas isso não é relevante: o que conclui-se é que a posição da espinha e o seu formato (veja que o foramen magno do Australopithecus é grande como o do Homo sapiens) eram mais próximas a do Homem que dos demais primatas, o que permitiria ao Australopithecus caminhar praticamente ereto.
Outra evidência que colocaria o Australopithecus como sendo hominídeo seria o pé. Isso mesmo, o pé. É que o pé do ser humano é único, prontamente adaptado á caminhada em terra, e totalmente inapto á escalada em árvores, ao contrário do dos demais símios. Se existissem evidências de similaridades entre o pé do Australopithecus e do Homem, a questão estaria finalizada e teríamos realmente o Australopithecus como pertencente á família dos hominídeos... Mas como analisar, por exemplo, a planta do pé de uma criatura fóssil?
Laetoli é um local na Tanzânia á 40 km a sul do desfiladeiro de Olduvai. Várias pesquisas relacionadas á evolução humana foram feitos nesse local. Em 1976 foram encontradas pegadas de animais e em 1977 foram encontradas pegadas que se dizem ter sido feitas por uma criatura que andava de pé, porém de uma maneira humana. No livro de Johanson e Edey "Lucy, the Beginnings of Mankind", White diz: "Não há dúvidas, ... São iguais a pegadas do homem atual. Se aparecesse uma na areia de uma praia californiana e perguntassem a um rapazinho de 4 anos, ele diria imediatamente que alguém tinha andado ali. Nem ele nem você conseguiriam distinguí-la de uma centena de outras pegadas na praia (p.250)." Num artigo publicado na Science white escreve: "As pegadas não erodidas tem um padrão morfológico idêntico ao existente no homem moderno..."
Na verdade, essas pegadas em tamanho eram pequenas, e foram feitas por dois indivíduos: um grande e o outro pequeno, e o tamanho das pegadas é exatamente do tamanho dos pés de Australopithecus afarensis macho e fêmea, respectivamente. Ainda por cima, a idade do substrato remete, exatamente, a época do Australopithecus afarensis. Por isso a maior parte dos cientistas conclui que essas pegadas foram feitas por essa espécie.
Mas a respeito desse argumento, os criacionistas rebatem afirmando que essas pegadas seriam de humanos modernos e não Australopithecus, justamente por apresentarem anatomia de uma pegada humana (lembre-se que os criacionistas não acreditam nos métodos de datação). Realmente, só por pegadas fica difícil de determinar quem as deixou. Poderia ser um Australopithecus, poderia não ser...
Mas eis que temos a prova definitiva...
Um osso fossilizado do arco do pé do Australopithecus afarensis foi encontrado na Etiópia, e ainda datado da mesma época das pegadas de Laetoli. A descoberta foi anunciada esse ano, ou seja, é recente. "Este quarto metatarso é o único conhecido do 'A. afarensis' e é uma peça chave da evolução remota da forma única com que os humanos caminham", disse William Kimbel, coautor do estudo na Universidade do Estado do Arizona.
O arco do pé serviria como alavanca para sair do chão no início de uma caminhada e para absorver o impacto quando o pé volta a pisar, sugerindo que o pé do Australopithecus era parecido com o nosso. Os símios, porém, têm a planta do pé mais plana, o pé é mais flexível e os dedos grandes que lhes permitem se agarrar às árvores, atributos que não estão presentes no Australopithecus afarensis. Em outras palavras, o pé do Australopithecus era igual ao nosso e produziria pegadas iguais á nossa, e sim, devem ter realmente produzido as pegadas de Laetoli.
Quem é Lucy?
Lucy era um hominídeo. Um dos mais antigos antepassados da espécie Humana (perto do final da formação do pó da terra até o primeiro humano, que receberia o Sopro Divino, se levarmos em conta Gênesis 2,7). E todas as inúmeras tentativas de negar a classificação do Australopithecus como hominídeo foram em vão.
E, novamente, com isso vemos mais uma série de mentiras ocultas no Criacionismo, e dessa vez está no meio até a tese criacionista das Testemunhas de Jeová que, embora seja "da Terra Antiga", rejeita a teoria da evolução da mesma forma que o Criacionismo da Terra Jovem.
Olhando para tudo isso, nos deparamos com uma situação ruim. As evidências de que existiram "homens-macacos" como o Australopithecus não é contrária à Bíblia, mas sim á Teoria da Criação Especial, que já foi discutida aqui. Ora, se as informações a respeito de determinado assunto não se encaixam com paradgmas pré-estabelecidos, como essa tese, o que é correto fazer? Distorcer a verdade par encaixá-la no paradgma, como os criacionistas tentaram fazer com a Lucy, ou aceitar a realidade dos fatos e abandonar o antigo paradgma, mas sem se distanciar da Palavra de Deus?...
Há algo a se pensar...
FONTE:
As tentativas de validar o fato foram feitas por dois cientistas: Solly Zuckerman e Charles Oxnard. O problema é que ao contrário do que os criacionistas ainda afirmam, os estudos realizados por esses cientistas não foram feitos corretamente.
Inicialmente, Solly Zuckerman tentou provar com estudos biométricos (com base em medições) que os australopithecus foram macacos, porém, seus estudos foram considerados obsoletos em 1950.
Já Charles Oxnard (1975), afirmou, baseado em suas análises multivariadas, que o Australopithecus não são mais intimamente relacionados, ou mais semelhante aos humanos do que os macacos modernos. O cientista Howell (1978), no entanto, criticou esta conclusão por uma série de motivos, dentre os quais:
- Os resultados obtidos por Oxnard foram baseados em medições de alguns ossos do esqueleto, que eram normalmente fragmentadas e muitas vezes mal conservados.
- As medições não descrevem a forma complexa de alguns ossos, e não distinguem entre os aspectos que são importantes para a compreensão de locomoção do fóssil.
Como se isso não bastasse, há "uma enorme quantidade de evidências", baseado na obra de cerca de 30 cientistas, o que contraria o trabalho de Oxnard. Estes estudos utilizaram uma variedade de técnicas, incluindo aqueles utilizados por Oxnard, e foram baseados em muitas diferentes partes do corpo do fóssil. Eles indicam que a esmagadora maioria dos Australopithecus se assemelham a seres humanos de forma mais estreita do que os chimpanzés.
Agora, o pior não é isso: o fato é que a "Lucy" foi descoberta DEPOIS dos estudos de Oxnard!!
É certo que, se tais estudos não foram bem feitos, a culpa não é do criacionismo. O problema é que os criacionistas ainda mencionam tais estudos como fieldignos, o que não são, e os atribuem como sendo sobre a "Lucy", o que também é mentira. Mas poderia haver alguma farsa criada pelos próprios criacionistas em favor da tese sobre os Australopithecus serem chimpanzés?
A ANATOMIA NÃO MENTE, PORÉM HÁ QUEM MINTA
É muito comum ouvirmos ou lermos a afirmação dos criacionistas que o Australopithecus não tinha nada de humano. Para isso são usados diversos argumentos. Ou até farsas...
Uma fraude quase nunca mencionada que foi feita em favor do criacionismo é de autoria da Sociedade Torre de Vigia, ou seja, das Testemunhas de Jeová (embora eles sejam indúbitavelmente criacionistas da Terra Antiga, usam também de argumentos contra a evolução biológica). Trata-se de um conjunto de gravuras apresentadas no capítulo sete do livro "A vida - qual sua origem: Criação ou Evolução?". Na página 94, vemos a representação de três crânios justapostos - identificados como pertencendo a um homem moderno, a um chimpanzé e a um Australopithecus. A gravura visa a produzir no leitor a impressão de que o fóssil guarda relação estreita com o chimpanzé e não com o ser humano, justamente como o criacionismo quer que seja. Mas a que critério levaria a esta conclusão? Para os escritores da Sociedade Torre de Vigia, uma comparação morfológica dos crânios pareceu fazer sentido . Eis a figura:
O autor do livro salienta que as características do Australopithecus (à esquerda) eram "sobrepujantemente simiescas". Na forma como os crânios são colocados acima, um ao lado do outro, realmente é forte a impressão causada no leitor de que o fóssil tem parentesco com o chimpanzé (ao centro), dificilmente tendo alguma vinculação com o ser humano atual (à direita). Todavia, a gravura acima apresenta uma peculiaridade que facilmente escapa aos olhos do leigo... Observe a gravura abaixo, extraída do livro antecessor ao vigente (Veio o Homem a Existir por Evolução ou Criação?), na pág. 85:
Parece-lhe familiar a representação acima? Na verdade, trata-se essencialmente da mesma figura publicada no livro antecessor. O layout gráfico foi melhorado, mas a figura é indiscutivelmente a mesma. Observe o crânio no alto, à esquerda - identificado como "macaco extinto" e compare-o ao da gravura anterior, identificado como "crânio de chimpanzé". A semelhança não é coincidência: os crânios são idênticos. Neste caso, podemos nos perguntar: afinal, o crânio é de um chimpanzé ou de um macaco extinto? Bem, há duas possibilidades: ou autor não conhecia o aspecto de um crânio de chimpanzé ou apoiou-se na ignorância do leitor, o qual dificilmente perceberia a alteração na identificação... Na verdade, o crânio em questão não é de um chimpanzé. Aí está a fraude.
Mas, que interesse teriam os editores do livro em adulterar o texto? Sobre isso pode-se apenas conjecturar... Contudo, tem-se uma hipótese: a exposição de um genuíno crânio de chimpanzé poderia levar a dificuldades... Vejamos: os chimpanzés possuem grandes caninos, os Australopithecus, não. Pode parecer um insignificante detalhe, porém a arcada dentária dos Australopithecus - notavelmente semelhante à dentição humana - é um dos aspectos anatômicos que os coloca como candidatos a membros na linhagem de seres que conduziram ao homem. Comparemos agora um verdadeiro crânio de chimpanzé com os outros dois, conforme a figura abaixo:
Será que o Australopithecus é um chimpanzé?
Apesar disso, isso não é o suficiente para derribar de uma vez a tese de que o Australopithecus tem de ser classificado como um chimpanzé. Uma alegação apresentada nesse link, por exemplo, afirma que o Australopithecus era um chimpanzé porque andava encurvado e possuía hábitos arborícolas. No entanto, para ser verdade de que ele andava encurvado ele teria que ter o quadril adaptado para tal, ou seja, igual ao dos símios e diferente da do homem. Mas será que isso acontece?
Em primeiro lugar, deve-se ter em mente que ocorre por parte dos criacionistas uma generalização a respeito do que seria o Australopithecus, como se todas as espécies de Australopithecus fossem iguais. Observe:
- O Australopithecus africanus tinha uma feição mais puxada para o gênero Homo.
- O Australopithecus robustus, hoje reclassificado como Paranthropus robustus, tinha algumas semelhanças entre o gênero homo, mas era bem mais robusto.
- O Australopithecus afarensis, a espécie de Lucy, possuía uma mescla perfeita entre antropóides e hominídeos
- O Australopithecus ramidus, por outro lado, era realmente mais simiesco. Esse sim era arborícola.
Tendo tantas características diferentes, é muito precipitado afirmar que o Australopithecus é um chimpanzé, já que existem variações notáveis entre as espécies.
Mas mesmo assim, vamos considerar uma afirmação daquele site criacionista, a de que o Australopithecus andava arcado.
Uma imagem vale mais que mil palavras. À direira, o Australopithecus afarensis; à esquerda, o Chimpanzé (Pan troglodytes):
Na imagem abaixo, podemos ver a real postura do Australopithecus e a do Cimpanzé, contrária a afirmação sem base lançada pelos criacionistas fundamentalistas:
Ademais, o Australopithecus era tão diferente do chimpanzé que um site criacionista acabou fazendo uma estranha menção a respeito dos fósseis da Lucy:
"Outros exemplos de Australopithecus, os achados na África do Sul (Australopitecus Afarensis), tidos como exemplo de macacos sul-africanos, (onde se enquadra o famoso fóssil de Lucy), por terem uma cultura humana ainda muito primitiva, foram reclassificados como sendo pigmeus."
(Fonte da alegação)
Pigmeu?? Ora, se o criacionismo classifica o Australopithecus como chimpanzé, por que vemos a alegação de que ele era um pigmeu?? Como podemos ver nas imagens acima, o seu crânio tem traços de pertencer á mesma família do Homo sapiens, mas de forma alguma era de Homo sapiens...
Tudo isso significa que encaixar o Australopithecus como sendo chimpanzé é um erro.
É UM HOMINÍDEO OU NÃO É?
Em vista a todas essas informações, a ação mais recente dos criacionistas é a de classificar os Australopithecus como um grupo á parte de símios, os Australopitecídeos. Essa ação leva em conta que o Australopithecus não era chimpanzé, mas também não era um hominídeo.
Para tal argumento ser derribado, bastava termos evidencias anatomicas de que o Australopithecus possui características que o classificam na família dos Hominídeos.
Bom, o que acontece se compararmos a bacia e as pernas do Homem com a do Australopithecus e do Chimpanzé? Quais se parecem mais?
Atente também para os pés do Chimpanzé, adaptados para a vida arborícola, e os do Australopithecus, que são mais semelhantes ao do homem. Isso também rebate, por tabela o argumento criacionista de que o Australopithecus era arborícola.
E que tal analisarmos as maxilas?
A maxila do canto esquerdo é a do Chimpanzé, a do meio é do nosso amigo Australopithecus e a do canto direito é a de um Homem.
Uma característica que colocaria o Australopithecus como Hominídeo seria a postura. Sabemos que os símios não andam eretos mas bastante encurvados; se o Australopithecus andou com uma postura próxima a do Homo sapiens teríamos mais uma contra-evidência para o argumento criacionista.
Vejamos? para analisarmos isso basta compararmos a posição do orifício chamado "foramen magno", de onde "nasce" a coluna vertebral. A do ser humano se encontra na base do crânio, o que permite que ele ande ereto. Observe o foramen magno do ser humano:
Agora, abaixo podemos ver o foramen magnum do crânio de quatro primatas: Australopithecus, Cimpanzé, Gorila e Orangotango:
Qual se parece mais com o foramen magnum do Homo sapiens? Obviamente que é o crânio laranja. E o crânio laranja é de qual primata? Resposta: Australopithecus afarensis. Note que o foramen magno não está tão embaixo, mas isso é porque ele possuía uma curvatura "leve" na espinha. De acordo com os fósseis o andar ereto total foi a partir do Homo ergaster. Mas isso não é relevante: o que conclui-se é que a posição da espinha e o seu formato (veja que o foramen magno do Australopithecus é grande como o do Homo sapiens) eram mais próximas a do Homem que dos demais primatas, o que permitiria ao Australopithecus caminhar praticamente ereto.
Outra evidência que colocaria o Australopithecus como sendo hominídeo seria o pé. Isso mesmo, o pé. É que o pé do ser humano é único, prontamente adaptado á caminhada em terra, e totalmente inapto á escalada em árvores, ao contrário do dos demais símios. Se existissem evidências de similaridades entre o pé do Australopithecus e do Homem, a questão estaria finalizada e teríamos realmente o Australopithecus como pertencente á família dos hominídeos... Mas como analisar, por exemplo, a planta do pé de uma criatura fóssil?
DA CABEÇA AOS PÉS
Laetoli é um local na Tanzânia á 40 km a sul do desfiladeiro de Olduvai. Várias pesquisas relacionadas á evolução humana foram feitos nesse local. Em 1976 foram encontradas pegadas de animais e em 1977 foram encontradas pegadas que se dizem ter sido feitas por uma criatura que andava de pé, porém de uma maneira humana. No livro de Johanson e Edey "Lucy, the Beginnings of Mankind", White diz: "Não há dúvidas, ... São iguais a pegadas do homem atual. Se aparecesse uma na areia de uma praia californiana e perguntassem a um rapazinho de 4 anos, ele diria imediatamente que alguém tinha andado ali. Nem ele nem você conseguiriam distinguí-la de uma centena de outras pegadas na praia (p.250)." Num artigo publicado na Science white escreve: "As pegadas não erodidas tem um padrão morfológico idêntico ao existente no homem moderno..."
Na verdade, essas pegadas em tamanho eram pequenas, e foram feitas por dois indivíduos: um grande e o outro pequeno, e o tamanho das pegadas é exatamente do tamanho dos pés de Australopithecus afarensis macho e fêmea, respectivamente. Ainda por cima, a idade do substrato remete, exatamente, a época do Australopithecus afarensis. Por isso a maior parte dos cientistas conclui que essas pegadas foram feitas por essa espécie.
Mas a respeito desse argumento, os criacionistas rebatem afirmando que essas pegadas seriam de humanos modernos e não Australopithecus, justamente por apresentarem anatomia de uma pegada humana (lembre-se que os criacionistas não acreditam nos métodos de datação). Realmente, só por pegadas fica difícil de determinar quem as deixou. Poderia ser um Australopithecus, poderia não ser...
Mas eis que temos a prova definitiva...
Um osso fossilizado do arco do pé do Australopithecus afarensis foi encontrado na Etiópia, e ainda datado da mesma época das pegadas de Laetoli. A descoberta foi anunciada esse ano, ou seja, é recente. "Este quarto metatarso é o único conhecido do 'A. afarensis' e é uma peça chave da evolução remota da forma única com que os humanos caminham", disse William Kimbel, coautor do estudo na Universidade do Estado do Arizona.
O arco do pé serviria como alavanca para sair do chão no início de uma caminhada e para absorver o impacto quando o pé volta a pisar, sugerindo que o pé do Australopithecus era parecido com o nosso. Os símios, porém, têm a planta do pé mais plana, o pé é mais flexível e os dedos grandes que lhes permitem se agarrar às árvores, atributos que não estão presentes no Australopithecus afarensis. Em outras palavras, o pé do Australopithecus era igual ao nosso e produziria pegadas iguais á nossa, e sim, devem ter realmente produzido as pegadas de Laetoli.
CONCLUSÃO
Quem é Lucy?
Lucy era um hominídeo. Um dos mais antigos antepassados da espécie Humana (perto do final da formação do pó da terra até o primeiro humano, que receberia o Sopro Divino, se levarmos em conta Gênesis 2,7). E todas as inúmeras tentativas de negar a classificação do Australopithecus como hominídeo foram em vão.
E, novamente, com isso vemos mais uma série de mentiras ocultas no Criacionismo, e dessa vez está no meio até a tese criacionista das Testemunhas de Jeová que, embora seja "da Terra Antiga", rejeita a teoria da evolução da mesma forma que o Criacionismo da Terra Jovem.
Olhando para tudo isso, nos deparamos com uma situação ruim. As evidências de que existiram "homens-macacos" como o Australopithecus não é contrária à Bíblia, mas sim á Teoria da Criação Especial, que já foi discutida aqui. Ora, se as informações a respeito de determinado assunto não se encaixam com paradgmas pré-estabelecidos, como essa tese, o que é correto fazer? Distorcer a verdade par encaixá-la no paradgma, como os criacionistas tentaram fazer com a Lucy, ou aceitar a realidade dos fatos e abandonar o antigo paradgma, mas sem se distanciar da Palavra de Deus?...
Há algo a se pensar...
FONTE:
http://br.answers.yahoo.com/question/index?qid=20100410054609AADxpI9
http://br.answers.yahoo.com/question/index?qid=20090213085807AA4Bs5W
http://cve.acordem.com/menu/1/31031//
http://super.abril.com.br/cotidiano/australopithecus-afarensis-retrato-passado-441009.shtml
http://arqueologiabiblica13.blogspot.com/2010_02_01_archive.html
http://nspriscila.spaces.live.com/blog/cns!BC358A7111B369F1!813.entry?sa=476130923
http://adven.webnode.com.br/news/a-farsa-do-evolucionismo/
http://www.talkorigins.org/faqs/homs/a_piths.html
http://sociedadecriacionistapiauiense.blogspot.com/2009/05/como-montar-um-hominideo-parte-4.html
http://ceticismo.net/comportamento/tipicos-erros-criacionistas/parte-07-%E2%80%93-paleontologia-ii/
http://www1.folha.uol.com.br/folha/ciencia/ult306u709707.shtml